sábado, 12 de maio de 2012

26 de Abril de 2012

      
Salvaguardei-me na apólice das franquezas
 estou borboleta de colar de contas coloridas e, asas bem compridas...
as perguntinhas queixosas de curral e valentia
já não atolam mais as lajotas do meus sonho

domingo, 29 de abril de 2012


Uma pessoa do nosso meio, cuja estima é relevada,  explicitou revolta em relação aqueles que se intitulam Poetas sem o ser. Não estudou Arthur Rimbaud, desconhece Ana Cristina Cesar, Claudio Willer, Torquato Neto, Fernando Coelho, Maria Firmino dos Reis, não sabe lidar com rimas e metáforas? Não pode se intitular Poeta!


Senti a responsabilidade de responder a esta querida pessoa. No começo ignorei mas, depois que vi Leonardo Boff, bem de pertinho, que pedi benção e dei cheiro na sua barba branquinha e sedosa, não sou mais a mesma. Não sou mesmo. Desde terça-feira 24 de abril de 2012 ganhei mais responsabilidade. Etimologicamente, responsabilidade também significa necessidade de dar uma resposta a uma proposta.  E já que estamos condenados a conviver nesta nave-mãe Terra, de sermos preconceituosos, arrogantes, invejosos, exploradores, mesquinhos,  falastrões e cruéis não há outro jeito; ou nos irmanamos ou contestamos.
Também fui burilada a martelo e talhada na pedra bruta, sofri um bocado no principio mas, depois aprendi que, estabelecer tolerância é a forma estratégica de defender a pluralidade.
Estilos de vidas, formas literárias, códigos de conduta, escalas de valores e opções diversas estão no mesmo nível. Tanto aquele que sabe fazer versos lindos, quanto o que escreve coisa-ruim- demais-da-conta merecem viver.
O trabalhador, o ocioso, o sábio, o simples, o esperto, o alienado, o artesão, o lírico, o insuportável todos são igualmente importantes. Ambos convivem, representam valores e, mostram que ainda deve haver  possibilidade de melhora.
É claro que existe os mais excêntricos, excessivos, repetitivos, lustradores do próprio ego. “Para cada tipo de razão um território e uma valia”, concordei com meus botões de casa afrouxada. Lembrei-me de uma citação que meu avô gostava: as palavras DURAS incitam a ira, as BRANDAS dissipam o amargor. Com o advento do google na minha vida,  foi que descobri o autor da frase: Confúcio.
Outro dia estava aplicando um teste numa dinâmica de grupo para jovens e, uma das participantes pediu-me ajuda. O grupo não sabia de quem era a frase: “Tu te tornas eternamente  responsável por aquilo que cativas”.
Fiquei indignada. Como assim não sabiam? Especialmente ela que, é filha de socióloga e motorista leitor, que eu bem conheço os pais!
Não conhecer o Exupéry? Impossível uma coisa dessa!  Arrogante e pretensiosa  dei dicas de leitura, e falei onde poderiam alugar o DVD com a história do Pequeno Príncipe.
No final da dinâmica acontecia um sarau e, onde cada um, se desejasse, poderia  demonstrar suas habilidades. Fizemos um grande círculo no meio da sala e apareceu tocadores de gaita, capoeirista, assobiador, fazedores de brigadeiro, dançadores de rua, leitores bilingues, skatista e até uma garota de mechas azuis no cabelo, boca cheia de dentes e bochechas rosadinhas que, nunca lera o Pequeno Príncipe mas, sabia fazer com papel colorido lindas libélulas de jardim e passarinhozinhos graciosos. Fez dezeninhas delas em minutos, dobrando o papel de forma ágil e assertiva. Generosa, nos presenteou com sua arte e eu fiquei mais certa que,  a vida não precisa ser um vale de acidez, mazelinhas amarelas, um de cada vez. Vamos juntos! Podemos transformá-la numa casa comum, de quintal colorido e flores de cheiros, desfrutada pela convivência humana e bondade de todas as coisas.
Tudo o que vive merece viver e, “se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três começarei a ser feliz”.


Beijos de conduta terna e que Deus continue nos conduzindo pelos seus caminhos de preferência.


As catorze e trinta desse domingo chuvinosinho, estaremos nos reunindo na Capela do Jardim Colonial com a Mulheres do Pinheirinho.

sábado, 21 de abril de 2012


Essa escassez de postagem significou lampejos diversos.
Saraus, cirandas, rodas de leitura, semana da saúde, cuidados com a filha,
Saudade de irmãos.
Conversinha fiada e tempo de delicadeza...
Vou voltar. Haja o que houver eu sempre volto.
Mesmo com pernas reumáticas e coração de ladrilhos, chama exausta na alma
e olhar macerado de incêndio... Estou voltando!

Eu te perdoo por deixar os chinelos num canto impróprio da sala.
Por ter escolhido esse piso cor de amor se amarelando para nosso quintal.
Te perdoo por não suportar meus incensos,
por levar as flores à garagem alegando que o perfume aflige a proximidade dos assuntos.
Perdoo-te pelo cochilar estático e repetitivo da bolsa de trabalho na ponta da mesa e,
TE AMO pelas dobras dócil de sua conduta,
pela sonoridade de todas as músicas escolhidas,
por guardar-me em segredos e esquecer de me entregar o presente de Natal.
Te amo pela confiança, andejos e permanência.
Pela escolha do alho, das frutas e textura do arroz.
Pelas pretensões, desapegos e facilidade aos acessos.
Te amo a ponto de atravessar o universo guardando nas duas mãos a brandura dos teus olhos
e, de pedir a Deus que me pregue na cruz, me queime em fogueira mas nunca NUNQUINHA mesmo
destine-me para longe dos teus cuidados e desejo.

Além do por do sol, outras mini luzinhas e calmaria... para o Poeta Dailor Varela


... Com ele troquei cartas, farpas, abraços, pedidos de amor e receitas de vinho.
Às vezes o achava medonho, desalmado e pretensioso. Na maioria, o MÁXIMO e, ele sabia.
Ainda era segunda-feira bem cedo (20/03/2012) quando recebi o desalento pela notícia de sua internação.
A inscrição no Conselho Regional de Assistência Social me dá garantia de entrada em locais restritos, especialmente Hospitais.
E foi lá que entrei com o coração aos pulos, em meio há tantos ele era ÚNICO no salão das emergências.
Chamei-o pelo nome, acariciei lhe a testa suarenta.
Ele reagiu com um olhar demoroso e palavrinhas curtas, incompreensíveis para, em seguida cair num ressono.
Seu quadro de saúde ainda era estável, “requerendo exames e cuidados” assegurou-me a enfermeira responsável.
Iniciava-se ali um tempo vigioso de incertezas e espera.
Em horas alternadas passei a visita-lo quase todos os dias.
Do setor Verde foi transferido para o Vermelho, o que evidenciava agravo e intensificação dos cuidados.
Contei sua história para equipe médica, Assistente Social e estagiária. Sua importância para nossa literatura e poesia.
Os dias seguidos ao AVC, doses elevadas de antibióticos, desconforto respiratório e descoberta da diabetes,
embotavam-lhe os olhos e, ele no seu sonho florejado de menino birrento que empurra o portão de pinho no paraíso, deu de não reagir aos estímulos. Aquele tiquinho de céu em plena terra cansou-se das agulhazinhas diárias e aferições.
O corte pequenino no pescoço, também chamado de traqueostomia, anunciava o mandato que não admite réplica.
Ele, que era entre os CEM, um dos MELHORES não melhorava e,
decidiu que no domingo (15/04), antes do almoço, ia mesmo encontrar-se com os pais no jardinzinho deles, cuja varanda dar para o poente e, fica de costa para uma bica de taquara, onde redes coloridas do Nordeste dão cheiros e, ficam balançando ao vento.
Tem ainda uma porção de pés de flor enfileirados.
Vaga-lumes e “anjos esbeltos desses que tocam trombetas”, borboletas e colibris, fazem parceria com outras delícias.
Dizem que por lá, nada é temível e, tudo é partilhável; luz, árvores, estrelas, água, coração e saudades...
É bem provável que por essas horas nosso Poeta maior esteja cantando para nós bem assim:

“No novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos.
Pra nos socorrer, pra nos socorrer”.

Acenos poéticos desse povo aqui, Mestre!
Lembranças que marejam o mais seco dos olhos e, uma boa querença danada de grande.


Ela continua compondo meu divino quadro-família.
Sou de cochilos e cachos, ela é vaidosa. Sou toda coração, ela é exata. Gosto de escrever e ela de dançar.
Continuamos parceiras como no tempo que cuidávamos da fazenda de flores.
As minhas eram brancas, amarelas e azul bem dormentinho; flor de malva, bogari, nove horas e alfazema.
As dela tinham cor perpétua e absoluta; flamboyant, carmim, girassol e açaí vivíssimo.
Eu só tinha medo de alma. Sofria contrita olhando as estrelas de claridade baixa.
Ela temia papafigo e, Zé Biró, doente mental que era filho da mulher que pegava menino.
Só bem depois viemos saber que, essa história de mulher que pegava menino era porque a mãe de Zé Biró, D. Leondina, parteira.
Minha irmã é uma orquestra de sentidos.
Corajosa moça de honestíssimas pétalas.
Corta o pé nos cacos, mas não tira o salto.
Nunca falta ao serviço, nem se aborrece quando adio o depósito das minhas promessas.
Quando espremem seu coração viro uma fera aflita.
Agachada na tocaia do sereno nem respiro, só penso em pegar minha espingardinha de soquete e, brincar de cobrir o coisa-ruim com folhas mal cheirosas e segredos de senhas.
Minha irmã é uma extensão de tudo que é favorável.
Repara minhas vestes, e joias de miçangas advindas dos tabuleiros hippies.
Tenta me ajeitar com seus xales finos, suas camisas de carestia e calças de marca que encobrem a brancura fina de minhas canelas.
Vira as costas eu a engabelo. Volto para minhas estampas florais e brincos de capim dourado.
Ela esquece que nasci no tempo de porta-pote e, que ainda sento no cepo de peroba escura que, virou cadeira na sala de casa.
Invés de abajur escolhi luminária de vela amarela com roxo nas bordas, coberta por sementes de cravos, casca de laranja cheirosa e pau de canela.
Minha irmã é uma dádiva. Meu insetinho da sorte.
Seguro no seu braço direito com as duas mãos de cuidados, como na infância irmãzinha e, na parte mais limpa da alma lhe guardo diariamente.
Temos sonhos comuns, gostamos de jardins.
Quando a mãe lhe punha para tomar sol, acomodadinha num cesto que parecia berço, eu ficava inventando que as florzinhas de pereiro que, sombreava o terreiro, falavam contigo e, você punha-se a sorrir com minha fala de raposa espavorida:
“ Faz cara de feliz menina banguelinha, faz cara de feliz...” e você fazia.
Por obediência natural ao esquecimento, não te lembras mais destas passagens. Não faz mal, eu as reinvento. Pois me falta talento para esquecer.

terça-feira, 6 de março de 2012

Faltam apenas 03 dias para a Segunda Edição do Nosso Sarau e, já começo a sentir aquela corcegazinha vagalumiosa. Escrever sobre estas MARAVILHOSAS MULHERES foi de responsabilidade ímpar e deliciosa.
Ler suas obras foi inspirador. Estou muito mais possível de encantos. Isso sem falar dos HOMENS que, irão homenageá-las.
Venham todos! É gratuito.
Teremos abraços bem apertados e, outras coisinha pra lá de gostosas.




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

domingo, 19 de fevereiro de 2012


Foi numa tarde sem cura, minha porção materna levantou-se da zona de conforto e adentrou naquele espaço que, mais parecia uma perturbação esquizofrênica de longo alcance e altura.

O dia anterior tinha sido de expulsões, estampidos de bombas, prisões, barulho de helicóptero, longos telefonemas, dor e muitas lágrimas partilhadas com amigos, em especial Paulo Barja.

Era 23 de Janeiro, o ano mal havia começado e, estávamos ali, eu e minha filha, buscando uma resposta, um alento por mais tênue que fosse para abafar tanta agrura.

Em aguda situação o silêncio é balsâmico. Mas aquele não era. Era infinitamente doedor.

Voltamos para casa. Eu estava disposta a enfrentar pelas crianças e idosos, os mais danosos cães. Recorri ao ECA, artigo cinco explicitava: “Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, descriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei, qualquer atentado por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais.”

Meu Deus! Todos os direitos foram violados e continuavam sendo, ali perante nossos olhos mornos!

Maldisse os governantes, os líderes, a ignorância, os assuntos de Leis.

Não calculei o preço mas, quando percebi que seria incapaz de conseguir sozinha, rebusquei amigos, reparti o leme e o barco seguiu repleto pela autenticidade dos atalhos.

Logo a garagem de casa encheu-se de caixas e sacolas. Biscoitos, meias, moletons, lençóis, camisetas, panetones, bíblias, carrinhos, gibis, prendedor de cabelo, fraldas, garrafas de café, porta-sabonete, chinelos, remédio pra piolho, analgésico, pirulito e itens relevantes de utilidades diversas.

Em duas semanas virei carreteira, madrinha, irmã de solidão e afeto, conselheira, ouvidora, portadora de recados e pedidos, entregadora de lanche da tarde, acompanhante de enfermarias.

Até que os meandros racionais inflamaram-se na sala de estar. Meu par apontou-me que, a razão é um sol impiedoso; ela ilumina, mas, também cega.

Foi decretado insatisfação pelos meus atos e opção. Vislumbrou-se a concepção que eu estava agindo de forma ridícula e atavicamente assistencialista.

Restaram-me os soluços, o abraço da filha e as centenas de pedidos guardados na bolsa.

Uma semana passou e, consumida pelo ardor da impotência, reativei minha subjetividade, minhas referências e princípios, o lugar mais íntimo onde o meu “eu” sobrevive.

Convenci o amor que minhas ações eram carregadas de histórias, razões e motivos, que minha opção tinha um caráter sacral. Pois minha alma também fora feita a machado e, talhada na pedra bruta. Carecia dessa possibilidade, de estar com o meu próximo segregado invisível e sem futuro próspero. Somente assim não corria o risco de ser sequestrada, de me perder do cordão que me costura a mim mesma.

No dia seguinte voltei a encontrar Clarinha, Seu Pedro, Vitória, Sara, Ana Cristina, Pedro Augusto, Seu Antônio, Alaíde e Dinorah e tantos outros que me ensinaram e ainda ensinam; “o tamanho da flor não modifica a sua condição essencial. A flor será sempre uma flor, mesmo que pequena”.

Continuamos indo, eu e minha filha, aos abrigos onde seguem alojados dezenas de ex-Pinheirinhos.

Muitos receberam o aluguel social e conseguiu alugar uma casa, outros a Defensoria Publica precisou intervir. Alguns buscaram o quintal de parentes, compadres, amigos. Alguns conseguiram empregos, outros estão à procura. Alguns ficaram doentes, outros foram embora para a terra de origem. As crianças estão frequentando as escolas. Uns sorriem outros permanecem quietos. Uns pedem chicletes, outros chinelos e, assim prosseguem suportando a aflição da existência.

Não deixarei de ir vê-los, pois o que não é percebido não existe. Ou seja; o que não for notado e distinguido, perde a efetividade.

zenilda lua

sábado, 7 de janeiro de 2012



Foram quase 20 dias longe dos Campos de São José.
O meu sertão continua paciente com a escassez das nuvens chuvosas.
A legitimidade do sol fez-me perder o cuidado com o frio.
Mas cada momento e encontros, cada abraço e despedida valeram por uma estante cheia...Devolvi-me, as mesmas paragens de longínquo tempo.
O alpendre azaleiado, a cerca que ainda suporta a sustância do vento.
A fogueira a esperar por Junho.
O descanso de almoço na cadeira de balanço.
A estrada nos levando ao poço, ao juazeiro e aos pássaros de cor...
Tudo estava lá. Permitido e forte.
Até a balança silenciosa e pendurada no teto. Agora já não mede nem engabela ninguém, só enfeita.
Se o paraíso é mesmo uma questão pessoal, eu estive nele e sei que haverá continuança de saudade.

Feliz Tempo de esperança e buscas significativas a todos que cultivam os jardins do Bem.
Aos que NÃO se vestem com a indumentária da arrogância e insensatez.
Aos pacientes de recomeço e escutas demoradas.
Feliz Tempo aos portadores de ternura, alegria e generosidade.
Aos guardiões do simples.
Aos que habitam as aldeias da positividade e se reinventam mesmo em véspera de cansaço.
Feliz Tempo aos que entendem a poesia da vida e com ousadia de sol recomeçam a marcha.
Aos que se disfarçam de anjos e vão acendendo luzes pelo nosso caminho nos devolvendo a certeza divina de presença e aconchego constante de Deus.
Feliz Tempo de esperança, paz e bençãos.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Literatura e Poesia como Instrumentos de Transformação Social

De uns tempos para cá passei a gostar muito mais das quartas-feiras.
Descobri que o amor pode muito bem ser recolhido nas primeiras horas da manhã numa parte do jornal, especialmente na página três do espaço Letras Imortais.
Há sete meses numa tarde de céu claro, recebi a incumbência de escrever sobre algumas Mulheres Vale Paraibanas e, sem nenhuma surpresa lá estava o nome dela.
Como se fosse um bordado, claro, brilhando!
Ela que nasceu em Cachoeira Paulista no dia de Santo Antônio.
Ruth Guimarães Botelho é um misto de ensino, encanto, sentimento e graça.
Pronta para carregar bandeira de pleno anjo, da guarda mais alta de comunhão, simpatia, universo rural, sinhorzinhos e sinhás.
D. Ruth é referência cultural, “teimoso é quem teima com ela”, conhece o fundo mais fundo dos quintais valeparaibanos.
Brinca de doer, de inventar, de nos fazer rir. Põe ouro nos trilhos opacos e transforma o trem "caindo aos pedaços" em carrossel garboso. Valida a silhueta do Jeca, sonoriza o cabo da enxada e a casinha fúnebre no fundão das roças.
Sempre terna e culta transcende do real ao imaginário com a facilidade de uma menina brincante.
Escreve como quem fala ao pé do fogão com as mãos cheirando farinha, ovos e ternura.
Inesgotável na sua capacidade de nos ofertar imagens, folclore e rendas... ela segue com sua força telúrica, dócil, originalíssima e considerada.
Estive com ela em Pindamonhangaba num encontro. Beijei-lhe as mãos, tiramos fotos assumi meu testamento emocional. Queria levá-la para casa mas, sábia que é, desistiu da proposta.
Estou caprichando em outros dizeres de amor que, um dia, espero, irei pessoalmente entregar-lhe.
D. Ruth, sua existência e poesia revalidam nossa certeza de sorte, formam a alegria perfeita que colore a floração das prendas.
Venha toda quarta-feira e fique para sempre viu?

Zenilda Lua

sexta-feira, 11 de novembro de 2011




Quando você chegar pratinando a maçaneta
tomarei de cheiro teu ombro direito
e nem vou esperar o terceiro pensamento...

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A noite não ficou mais verde depois do grilo...






...Você e seu pai jogando água, maledicência e gritos para espantar o bichinho da goiabeira.
Você e seu pai desejando ver o pobrezinho florescer no bico de um pássaro.
Eu conheço bem de longe o desejo de vocês.
Torcem pela chegada do domingo pela textura do boizinho no churrasco. Degustam cada lasquinha de carne.
Trabalham na esfera proteína e azulejo cintilante, sempre.
Brindam-se na cumplicidade mordendo a borda do copo descartável.
Você e seu pai entregues a partida de futebol no estádio ou na sala.
A mesma camisa, lágrimas nos olhos e testa suada.
Você e seu pai, amor de encontros e durabilidade.
Seja ouvindo a música escolhida, seja tomando café na casa da avó em silêncio de sábado.
Você e seu pai sempre com assunto e soltura exposta.
Conversa de feira, de campeonato, boliche e temperos.
Abrem todo o infinito com a ponta dos olhos.
Olhos de cor idêntica e cabelos com os mesmos cachos.
Você e seu pai a mesma teimosia, gênio, esquecimento e virtudes.
Mãos de miudezas e quadril de covinhas.
Nem espero vocês me chamarem chego rica, soletrando as horas, repetindo-me no amor que os protejo e com a sorte de tê-los vou caminhando por entre beirais e rosas.

Zenilda Lua

sábado, 8 de outubro de 2011



Uma criança precisa tanto de uma canção de ninar quanto de uma alimentação saudável.
Um paciente precisa tanto de uma sessão de cinema quanto de sessões de psicanálise.
O cantor, o palhaço, o médico, a bailarina, o sábio e o filosofo preenchem necessidades distintas na vida de cada um de nós.
Eu não desejo apenas o mérito que compensa o esforço, nem medalhas que legitimam vitórias.
Eu só desejo que não sejamos abafados pela exaustão da inércia, que nos resfria, e nos torna alheios.
Desejo que, atentos as manifestações culturais, possamos resignificar nossa passagem terrena contemplando a arte e sua feitura.
Desejo que invés de porteiras eletrônicas, envelopes com poemas feche nossas ruas, que invés de sirenes e buzinas escutemos mais cantigas de rodas ou o som doce da flauta.
Que a correria cotidiana der lugar a uma sonora caminhada pelos vales líricos da meditação e ternura.
Dispensemos os excessos, as chaves, aldravas, remédios, apego ao trabalho, ao ouro e perfumes.
Essas coisas não abrigam garantias.
A arte sim.
A arte nos acode, ilumina e aponta verdades.
A arte nos iguala, reacende encantos e possibilita-nos compreender:

- o amor também depende de um nível de altruísmo que, está muito próximo da fé e, não pode nunca cair nas margens do desinteresse - .


Zenilda Lua

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Eu, Macabéia do Aluamento.
Camponesa na graudez da colheita.
Chego de supetão e o abraço sem cotas.
Ele, analista atento, bem informado, capaz de meigura mas, compassadamente.
Menino de recreio, cauteloso.
Passeia apenas no carrossel do bom senso e,
só vai ao jardim quando tem churrasco.




domingo, 4 de setembro de 2011

Ainda ando bendizendo os dias que se tornaram cheios.
Alegrando-me por amigos que erguidos numa paisagem de lampejos e paz dançam com alegria incontida a arte de celebrar a vida e, me levam junto por entre bromélias e templos, becos e assuntos, ritos de beleza, ensino, contenteza e barulhinho bom.

Suspiro desajeitada sem entender muitas vezes o vai e vem dos trâmites.
Cavoucadora de infinitos viro bicho e não me aparto das vertentes mais ternas.
Embora alguns afirmem que o ser humano é o lugar onde o mal se concretiza dou uma de desentendida e prossigo no acompanhamento da marcha santa.
Penso que haverá sempre um recanto onde a verdade sobrepõe a dúvida, o amor afoga o ódio e alguns abraços bem apertados são muito capaz de curar as dores mais fundas.

Que venha a primavera multicolorindo a aflição das paisagens, purificando a mente dos que ingressam pelas veredas espinhosas e que com sua força mental cria um ambiente inóspito, desadequada, desprovido de harmonia e nesse ambiente dão de padecer.
Que venha Setembro com seu colar de miçanga e flores que estampam janelas.
Ainda preciso saber identificar os ruídos celestes e descobrir as pegadas de Deus na varanda. O céu também começa nas pedras e as minhas, igualmente a de Drummond vez ou outra estanca no meio do caminho, única diferença é que no finalzinho do dia, bem no finalzinho, ela brilha.

domingo, 7 de agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

As vezes sinto-me no primeiro amanhecer da gênese.
Desconexa e troncha.
Arenosa e perene.
Nenhuma convenção parnasiana ou eclesiástica.
Tudo solto e laico.
Fio claro fabricador de sonhos.
Sem haicais ou sonetos.
Só rima fraca, rufar de penas.
Passarinho ao vento, coração de cheiros,
jogos florais e cerca de renda.
Quando aperta vou ao sebo.
Evoco Spinoza, Sartre, Rubem, Lacan.
Bato palmas e refresco-me com pomadas Cartesianas,
compressa de água mista,
lembrança do Calvário e Cristo lá,
com toda aquela dor lhe cobrindo as feições,
ainda dizia para perdoar que,
“eles não sabiam de nada”.
– Capaz! –
Oh, que homem mais único!
Por isso, tanta fresta de luz escorrendo no meu chão.
Deus é muito prático.
Desisto de esperar pela razão, e suas leis.
Molho a alma no riozinho da primeira causa, agora já estou no crepúsculo.
Nada suspende minha contenteza,
meu bem-dizer a vida e os dias que dei de sorrir
até doer, pelo que ando sentindo...

Zenilda Lua

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Inclinação Poética ou Pequeno Depoimento Amoroso



Tudo começou num lugarejo distante e gracioso onde o povo é simples mas, tem natureza forte e até hoje suspende o tempo de secura transformando em festa a fase mais dura.
Sentada num banquinho de madeira bruta, no alpendre pintado de um azul desbotado, cercada de florzinhas miúdas eu, ainda menina com traquejo de roça, obedecia o ditado daquela moça fina que chorava generosamente: “Receba, ingrato de alma cruel a sua aliança”... e por minha conta acrescentei:
...”Não guarde esperança de me procurar”.

Começou assim meu ofício mirim, escrevedora de cartas.
Na comunidade rural onde morei até os doze anos,
minha família era uma, das poucas que tinha acesso a leituras.
Meu avô era homem de bons livros, minha mãe e tias eram educadoras sociais, pessoas amativas e incentivadora de acesso a leitura,
especialmente a literatura de cordel.
Logo cedo fui alfabetizada e inserida num contexto literário excelente.
Com inclinação para as causas de amor dei de ser convidada à fazer declamações em quermesse, semana do livro, bailinhos de aniversário e programação ecumênica.
As encomendas de cartas não paravam de chegar.
Cartas de amor, de amiga, de escassez, de fartura, de luto e de intriga. Cartas sem assunto só para dar notícia do inverno sempre mínimo e demoroso.
Cartas simples com cheiro de horta, desobrigada de rimas, planejamento ou resposta.
Sequer sonhávamos com o advento da Internet e o telegrama não bastava pelo fato de encarecer e encurtar o assunto.
Reveza-me, entre a escola, o cuidado com a fazenda de flores (em parceria com a irmã) e a feitura das cartas.
Enchia, pela minha gente, páginas de notícia familiar, elogios, saudades, convites, lembranças, parabéns, sentimentos que, sempre tendiam para a ternura.
Até que veio a maioridade e a menina das cartas virara moça e, esta moça recebeu de um Poeta distante uma promessa de amor via carta.
Oh sina deliciosa!
Respondi a carta e a promessa vingou, encheu-me de suspiro e prumo. Avolumou-se em mim a certeza de sorte e o desejo de conhecer outros Campos.
Num outono dos anos noventa, dei bênção à mãe, pedi demissão do trabalho, tranquei a faculdade de Letras, troquei as ruas ensolaradas de minha cidade pelas avenidas neblinosas de São José.
Quase morri de saudades mas, vieram os amigos, a Brisa e o amor continua.
Quando se descuida fica mais terno e ainda revela-se de manhã, na hora do almoço, no meio da tarde, na boca da noite e de madrugadinha.
Continuo declamando versos.
Escrevendo cartas.
Amando as saias de cor.
Sou fã da Sônia Gabriel e ainda carrego na alma o cheiro adocicado das florzinhas miúdas que coloriam o alpendre onde eu sentava num banco de madeira bruta para escrever as primeiras cartas, tão minhas tão sertanejas e tão possíveis de amor.

Zenilda Lua

sábado, 25 de junho de 2011

sábado, 11 de junho de 2011

e cá estou com meus defeitos, limitações e assunto ralo.
Pés em degelo pelo frio de Junho. Rezando para Setembro chegar cedo.
Coração dupla face continua aluado. Metade sertão metade Poeta e Filha.
Tenho tentado manter o prumo.
Tomado decisões configuradas próprias de gente grande.
Trabalhado muito.
Estudado pouco.
Lido bastante.
Tem se elevado em grau maior minha zanga com a Telefônica.
Todo dia xingo.
Qualquer hora dessa chamo a polícia e obrigo o Ministério Público a indenizar minha aflição.
Ser independente requer muita coragem e co-inspiração.
Estou agradecida a Univap, Jornal O Vale e Tv Aparecida pela divulgação da literatura Vale Paraibana.
Em especial ao SESC que nos confiou o desafio de cantar e dizer o AMOR.
Eu,Sônia Gabriel, Paulo Barja, Braga Barros, Selmer, Dyrce Araújo, Santos Chagas e Carlos Abranches,
estaremos Sexta e Sábado esperando os amigos, os fictícios, os de natureza filosófica, os que adoram um tempero sertanejo, os que dão carona, que emprestam o guarda-chuva, os que investigam, os que faz cantigas,
os de bom coração, os que estão se tratando, os de silêncio, os de poesia, os fazedores de arte e diferença....
Aqueles que entendem que a vida só sustenta-se feliz quando temos amigos nos querendo BEM e um amor nos querendo SEMPRE!


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Algumas frustrações corriqueiras mas, nada como o despontar de conflitos para geração de criatividade...







Quando percebi que seria incapaz de prosseguir sozinha, rebusquei amigos, entreguei o leme e o barco seguiu feliz pela autenticidade dos atalhos.

sábado, 14 de maio de 2011

Em tempo de virada Cultural, friozinho de maio chegando, tento tirar proveito de todas as ações, mesmo aquelas que sou obrigada a pertencer por necessidade.
Curadora de alforrias cavo meu próprio sol.
Se dói eu grito, esperneio, choro...
Se é bom aplaudo.
Se acredito vou cavoucar até a última orquídea virgem aparecer sorrindo.
Se não é sincero não conte comigo.
Algumas existências me traz claridade e alivia o ardor da espera, das decepções corriqueiras, do consumo excessivo e
da ranzinzisse humana.
Na maioria das vezes o sentimento me sobrepõe a fala, por isso escrevo.
Acredito que a brandura seja a guardiã do afeto.
Também vou a feira, ao dentista, reunião de pais, cardiologista.
Pego filas e sou xingada no trânsito.
Odeio rodeios e desperdício de água.
Sou exigente e vou virar uma especialista em cultura caipira.
Recebi importantes propostas de trabalhos.
Sufoquei-me de contente.
Estalei todos os dedos da alma.
Hesitei pela lonjura das contas, textura e miçangas.
Nas duas próximas semanas coração ficará espremido de abraços
(ADORO!)
Semana do Serviço Social na Univap e Festival da Mantiqueira em São Francisco Xavier
Se perceberem silêncio é que o amor vigora e desencolhe a alma mas, isso já é outra história...

quarta-feira, 20 de abril de 2011



Sônya Melo nossa Artista!







O Parque da Cidade tomado por fazedores de literatura









Sônia Gabriel
a Doutora
contadeira de causos
NossaDri&PauloBarja






Minha mãe achava estudo a coisa mas fina do mundo.


Não é não Mãe!


A coisa mais fina do mundo é o sentimento


e essa gente aqui. (Adélia Prado)









Bienal 2011







São José dos aviões tomada por Livros!









Esperançoso com a promessa de ócio o tempo se refaz macio e morno sem qualquer vestígio de bruteza.
Já é quase véspera de Sexta-feira Santa e os olhos da alma brilham feito objeto de amor.
Convencida de aluamento sinto não ter mais volta.
Levamos os livros ao último vagão da curva. E não é que deu certo?
Pois que deu e com sobra. Abundância. Fartura.
Conheci a folha branca da mão pousada e ao meu auxílio uma porcentagem sonora de Bem.
Na Bienal, nos Papos com o Autor, no Rapsódias, na praça com a Dyrce, no espaço Beira Rio onde os Mistérios do Vale nos foram recontados.
Uma boa palavra é como um alimento fino. Constantemente recebo este alimento que vem sorrindo iluminar a varanda de minha mente e coração.
Sou grata pela permissão da existência.
Só não consigo diminuir essa querência de Bem.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Convite



Imperdível esse lançamento. Muitas estórias, arrepiação, amizade e alumbramento.

terça-feira, 29 de março de 2011

Noticiazinha dos últimos dias

É muito verdade que foi um sucesso a apresentação Elas Por Eles.

Troquei a saia hipie por um terno garboso, numa obrigação voluntária e deliciosa.

Usei chapéu comprado na França que o Paulinho emprestou.

Sônia Gabriel é tudo que se precisa para reinventar a lei do afeto e

por falar em afeto minha metade catou mala, cuia e se mandou de férias pro Nordeste.

Morri de saudades.

Faltei na Pós.

Com Brisa a tiracolo deixei de ser tímida na hora certa.

Poesia no Prato ganhou homenagem.

Arnaldo do Releitura informou que escolheu UM dos meus poemetos para compor a leva de abril




e o Pablo Gonzalez fez resenha do Aparador.




Céu cor de anil, eu mereço!

Josie Mello veio passear em São José e sequer nos vimos.

Bagagem descampada de amor...

Ana Morena e seus 25 anos de carreira, show inimitável e lindo na comedoria do SESC vesti flor e fui sorrindo.

Fiquei sabendo que o Paxá o cão mais amigo da Bea Galvão não está mais aqui...

Preenchi formulários, recrutei afagos, esqueci de me inscrever na Bienal.

Fui platéia. Macabéa atropelada cheia de reticência...

Atrasei entrega de artigo encomendado.

Deixei que a alegria da Leitura no Bosque me efetivasse.

Manejei com afinco algumas paisagens e segredos do ofício.

A Assistência Social também tem seus vincos de plenilunio.

Oh mulherzinha complexa!

Reativei a chama do sentido e dei à vida um tempo de recreio.

Abri um vinho.

Fiz miojo com cenoura e sem abreviar a raiva do Ministro Fux fiquei ouvindo o repetir de uma Marisa semi-doce:


“Amor,I love you Amor,I love you Amor, I love you Amor, I love you”.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Elas por Eles

Foram três meses lendo, relendo, estudando estas Mulheres.
Emocionando-me com as ações fomentadas por elas,
com as tormentas enfrentadas, amores negados, vividos.
Estou muito mais certa que estas Mulheres do Vale
compreendem o coração como o lugar onde a cultura habita.

E hoje juntamente com Sônia Gabriel, Pércila, Paulo Barja, Wallace Puosso,
Roberval, Silvio Ferreira Leite, Braga Barros e todos os que amam a poesia,
celebraremos a conduta terna do encanto.

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Pastoreei tuas flores secretas
simples, tépida sem um pingo de sono
dispensei visitas
fiz planos de amor
nos levei para além das estrelas antigas
e com asas de rendas que alteiam as nuvens
persisti no alento do verbo ESPERANÇAR
fez-se tudo silêncio de espuma...

...sonhadora e branda
vou continuar.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011


Amar também é faltar com palavras. É sentir saudade do que não se explica.
É estagiar a necessidade da loucura para assegurar a normalidade.
É abrir um espaço bem largo por dentro para guardar respostas que jamais virão.
É nunca contradizer a vontade mesmo correndo o risco de ter todos os dedos prensados na rocha bruta.
É portar a filosofia daquele que não se arrepende por se envolver com a ternura.
Amar é continuar assim: como a rua da infância de Cora; pedregulhenta porém feliz e sonora.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011



Vez em quando preciso sair do casebre fúnebre, açoitar os bichos lamacentos, trocar as moscas por borboletas, abraçar o meu próximo até que as costas reacendam...
Verbalizar mais de uma vez:" Eu te amo, eu te amo, eu te amo... CRIATURA"!
Num alvoroço de confraria feliz.

Foi por isso que 2011 chegou com garantia e oferta. Céu de chuviscos e ruas desertas. Promessas distintas envelopadas, almas clarinhas dando risadas serenosas.

Quero que as melhores coisas vigorem.
Que a empreitada pelo sucesso continue em alta.
Que as inglórias caiam por terra agoniadas.
Que o frio seja um pretexto a mais para que o abraço desafie o TEMPO.
Quero paz sem finitude e saúde para agradecer a DEUS toda recompensa....


Já não me desespero mais.
Descobri uma fonte que aceitou escoar meus excessos...


quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

sábado, 4 de dezembro de 2010




Meu pai agreste se foi bem cedo. Cativo do álcool abriu todas as torneiras do desafeto e nos deixou numa véspera de domingo dia de Nossa Senhora da Conceição. Meu pai católico, provedor de versos curtos, soltador de fogos de artifícios e pescador de primeira. Tinha voz terna e um cheiro diferente que eu infante desconhecia a procedência. Quando mais tarde dando falta de ternura e da sua mão que nunca mais tocara a minha, entendi a rudeza da sua fala e passei a detestar aquele cheiro com a maior força que a verdade pode guardar.
Meu pai abortou as nossas passagens mais engraçadas. Proibiu flores e cantigas. Ficou sovina. Suspendeu sentimentos essenciais e por muitas vezes fez de sua presença um incômodo.
Estendíamos a fita de cor para refazer os laços que a bebida havia esgarçado, ele anoitecia e nunca aceitava. Fortalecendo na gente aquela dor amargosa e deselegante.
Não chorei a morte do meu pai. Suas escolhas renegaram minhas lágrimas, amor e fonte de ajuda. Após deixar seu corpo na lápide 2 do cemitério São Miguel voltei para casa descoberta e forte.
Guardei seus chinelos e o lençol que cheirava cigarros. A rede de pesca, arreios e sela, atras da porta, adornavam silenciosamente aquela tarde única e grossa.
Minha memória revirava a casa e não encontrava uma sombra tênue de carícia paterna. A ponta de afeto mais fina que fosse propiciar uma saudade futura. Meus quatro irmãos e minha mãe choravam quando os abracei e saí indecifrável.
Hoje entendo que tudo aquilo foi um aprendizado necessário para fortalecer minhas intenções. O quanto a literatura foi importante para mim naqueles tempos espinhosos de aconchego falho, liberdade negada, falta de despedida e bênçãos. Tudo aquilo promoveu em mim o desejo sóbrio de cuidar dos que me cercam. Percebi a família como base detentora de valores que regem nossa vida e história.
Pobre meu pai, sem convenção espiritual ou intelectual perdeu-se nas teias venosas da caminhada etílica. Ouvindo Chico Buarque numa dessas manhãs de domingo, lembrei-me dos olhos claros que meu pai tinha e desprovida de dor chorei sozinha.

"Depois de te perder
te encontro com certeza
talvez num tempo de delicadeza
onde não diremos nada
nada aconteceu
apenas seguirei como encantada, ao lado teu"...

Zenilda Lua

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Em dia de Pão&Poema



No inicio da noite de sábado um alerta: Macarrão tem de ir à panela!

Os meninos chegarão famintos.

Num instinto paterno o Poeta cuida de tudo, corta a cebola e os tomates vermelhos, descansa no sal a carne moída, consulta o relógio, atiça o fogo, escolhe os pratos, escorre a massa, apronta o molho e eles chegam. Viola em punho, perna tatuada, cabelos de cachos. Enchem a casa de riso. Misturam-se aos adultos como se fossem eternos, suavizando as coisas duras numa algazarra sem enfado.

Nestes dias de encontro a receita não aceita dicas. Segue solta numa postura amorosa.

Dou-me conta que a filha cresceu e trouxe para seus dias de mocidade o brilho estaloso das noites de lua, cantigas sem regras que alumiarão o asfalto de minha velhice aproximativa.

A noite assobia doce e alta. Colchões, cobertas e travesseiros improvisados adotam a sala e os três meninos se esparramam pelo chão feito batatinhas sonolentas.

Nasce o domingo e eles prosseguem burilando temas que merecem aplauso.

Pedro estica o fio das conversas de quintal e descreve com pompas o tempo que modelava para sua mãe costureira acertar os alinhavos de roupa nova, encomendada pela vizinha para a filha do meio. Aperreio infante. Dado a gargalhada ele conta-nos que insistia para que a mãe contratasse outro provador de roupas e nunca obteve êxito.

Remexe as lembranças e pausadamente fala do bausinho que ganhou de presente da avó e o irmão quebrou a tranca. Suportou a dor daquela ação danosa e só depois se vingou choroso estragando o videogame do caçula. Explica com detalhes o pano parecido com veludo que aplicou na parte interna do baú sem tranca só para este ficar mais risonho e até hoje guarda dentro dele seus tesouros bem encomendados.

Conhecendo o tempo e sua escassez de diálogos, incentivo-os a continuar.

Empenho-me na promoção de afeto que aos poucos ganha forma colorida e se multiplica.

O Stefan imita o Pedro e também abre sua caixa de história.

Revive fases de amor materno e consola-se pelas roupas de babado e franja que sua irmã lhe emprestava. Encantado com o feito, erguia os bracinhos e bailava com a contenteza de menino que tinha menos de cinco anos de idade e adorava experimentar roupas compatíveis ao gênero oposto.

Todos riem sem economia e eu lavro a percepção do quanto é importante esta unicidade.

Sinto vontade de abraça-los, impedindo-os de ir-se tão já.

Sinto vontade de pedir ternamente: Continuem assim viu? Alvejando o tempo sem negar alegria neste aprendizado necessário. Precisamos prosseguir meninos com a rareza dessa poesia humana, saltitante, encantosa e cheia de laços, franjas e bordados. É nela onde está o ouro que precisamos lapidar.


Com mais ternura


Zenilda Lua

Outono de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Foram três meses de silêncio, exaustão e valentia. Assuntos enfezados, encontros (de)versos, alinhavos, negociações em cima da hora, telefonemas em dúzia (feito flor), ensaios tensos e sonoras risadas. Nossa pretensão era inserir suavemente TODAS AS LETRAS DE SÃO JOSÉ na 44a Semana Cassiano Ricardo. Convencemos a curadoria, convoquei a família, abandonei a pós e os projetos sociais. Embrenhei-me na formalidade e depois de muitas sirenes invadirem o céu ameaçando gastura de morte... Conseguimos!

Os amigos e apreciadores da literatura compareceram...


Quase todos os escritores e poetas de São José foram citados
Brisa Almeida cerimoniou o evento
Na efetivação de ensaios utilizamos o Espaço Mário Covas

a cozinha da Poeta Dyrce Araújo

faltou as fotos do SESC e do Bola de Meia

Faltou tempo e paciência (as vezes)

...mas conseguimos divulgar e apresentar a beleza e a importância da obra de nossos escritores.
Viva a poesia, a sinergia, o coletivo e o desejo mútuo de novos rumos para a literatura joseense.