...Você e seu pai jogando água, maledicência e gritos para espantar o bichinho da goiabeira.
Você e seu pai desejando ver o pobrezinho florescer no bico de um pássaro.
Eu conheço bem de longe o desejo de vocês.
Torcem pela chegada do domingo pela textura do boizinho no churrasco. Degustam cada lasquinha de carne.
Trabalham na esfera proteína e azulejo cintilante, sempre.
Brindam-se na cumplicidade mordendo a borda do copo descartável.
Você e seu pai entregues a partida de futebol no estádio ou na sala.
A mesma camisa, lágrimas nos olhos e testa suada.
Você e seu pai, amor de encontros e durabilidade.
Seja ouvindo a música escolhida, seja tomando café na casa da avó em silêncio de sábado.
Você e seu pai sempre com assunto e soltura exposta.
Conversa de feira, de campeonato, boliche e temperos.
Abrem todo o infinito com a ponta dos olhos.
Olhos de cor idêntica e cabelos com os mesmos cachos.
Você e seu pai a mesma teimosia, gênio, esquecimento e virtudes.
Mãos de miudezas e quadril de covinhas.
Nem espero vocês me chamarem chego rica, soletrando as horas, repetindo-me no amor que os protejo e com a sorte de tê-los vou caminhando por entre beirais e rosas.
Zenilda Lua
2 comentários:
Que lindo.
.
Maravilhoso, como é costume em escritos seus. A poesia é pulsante, num lirismo singelo mas poderoso.
E há quem diga que o lirismo morreu... rs.
"Mais morto
é quem
me diz.
E não é feliz.
Não é
feliz."
Abraços.
.
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