quarta-feira, 23 de abril de 2008

terça-feira, 22 de abril de 2008

sábado, 19 de abril de 2008

Deusaflô



A cada volta sua
retiro o coração da gaveta empoeirada
ponho o relógio para sonhar
atendo o telefone
guardo o luto
escrevo carta num céu de pétalas
e até julgo o amor como eterno...

A cada volta sua
acendo as estrelas uma a uma
desembrulho a noite de lua
incentivo o por de sol
rego as florestas com assobio doce
separo os livros
capricho na sopa de coentro
e confirmo minha grande sorte
ao lembrar teu sorriso clarim
(agora, não mais metálico)
sinto até vontade de cantar

Deixa-me os sonhos teus
para eu brincar com eles de novo
dá-me teus cabelos breu
para enfeitá-lo com as flores azuis
que eu mesma as colhi
(em tempos de insônia e saudades)
descalça, na bruma da aurora
e com a falta tua
costurada no peito...


Zenilda Lua

Status-quo



Teu colibri
trouxe-me o vulto
e o gorjeio
das tardes sem donos

Impulso saudoso
e deusas queixosas
que impressas e virgens,
ainda dormitam
nas lamparinas de lã...

Zenilda Lua

Do aceno a colheita




Contenho o estoque de céu
remetido pelo teu pólen
menino vaga-lume
espelho excessivo
entrega amigável
mil maneiras de postar a sorte
no dobrar os joelhos da alma
que te cerca e ama
Sem endurecer a moleira do meu poema ateu
você segue
experimentando cores,
respeitando invernos
adubando estrelas
curando os porões de toda promessa...
Fiel, igual segredo de jasmineiro.
Zenilda Lua

sábado, 12 de abril de 2008

Regresso casular


(Para Misael Nóbrega)


Que segredo será que lhe guarda
Que enfado será que lhe soma
Que brado te onera...

Vigiávamos tua prosa esperançosos
Até que a mesma se diluiu
- poética, macia, sincera -
liricamente propícia
a um rio imenso, aristotélico...

Céu e sal
Echarpe e véu
Sol e hera
E nós todos a postos
Esperando sua volta
-nenhum vestígio dela -

Zenilda Lua

Ruge e carmim

Abril chegou despedaçando traços
Desfiando o tempo da obediência
Paixão, deleite, segredos
Mãos e seios, sapiência

Amor suprido, enlace
desejos, batom, arpejos
papoula, ósculo, oferenda


A ocasião foi própria
Ficou decidido assim:

Carne e unha
Sol e vinho
Alcaçuz e alfenim

A mesma escova
O mesmo pente
Toalhas mornas
Absorventes...

Flor de amora nos olhos pêssegos
A mesma rota
O mesmo texto
Alquimia e alecrim

Elas e seus arrepios

“Não tecemos a trama da vida;

somos meramente um dos seus fios”.

Zenilda Lua

quinta-feira, 10 de abril de 2008