quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Em dia de Pão&Poema



No inicio da noite de sábado um alerta: Macarrão tem de ir à panela!

Os meninos chegarão famintos.

Num instinto paterno o Poeta cuida de tudo, corta a cebola e os tomates vermelhos, descansa no sal a carne moída, consulta o relógio, atiça o fogo, escolhe os pratos, escorre a massa, apronta o molho e eles chegam. Viola em punho, perna tatuada, cabelos de cachos. Enchem a casa de riso. Misturam-se aos adultos como se fossem eternos, suavizando as coisas duras numa algazarra sem enfado.

Nestes dias de encontro a receita não aceita dicas. Segue solta numa postura amorosa.

Dou-me conta que a filha cresceu e trouxe para seus dias de mocidade o brilho estaloso das noites de lua, cantigas sem regras que alumiarão o asfalto de minha velhice aproximativa.

A noite assobia doce e alta. Colchões, cobertas e travesseiros improvisados adotam a sala e os três meninos se esparramam pelo chão feito batatinhas sonolentas.

Nasce o domingo e eles prosseguem burilando temas que merecem aplauso.

Pedro estica o fio das conversas de quintal e descreve com pompas o tempo que modelava para sua mãe costureira acertar os alinhavos de roupa nova, encomendada pela vizinha para a filha do meio. Aperreio infante. Dado a gargalhada ele conta-nos que insistia para que a mãe contratasse outro provador de roupas e nunca obteve êxito.

Remexe as lembranças e pausadamente fala do bausinho que ganhou de presente da avó e o irmão quebrou a tranca. Suportou a dor daquela ação danosa e só depois se vingou choroso estragando o videogame do caçula. Explica com detalhes o pano parecido com veludo que aplicou na parte interna do baú sem tranca só para este ficar mais risonho e até hoje guarda dentro dele seus tesouros bem encomendados.

Conhecendo o tempo e sua escassez de diálogos, incentivo-os a continuar.

Empenho-me na promoção de afeto que aos poucos ganha forma colorida e se multiplica.

O Stefan imita o Pedro e também abre sua caixa de história.

Revive fases de amor materno e consola-se pelas roupas de babado e franja que sua irmã lhe emprestava. Encantado com o feito, erguia os bracinhos e bailava com a contenteza de menino que tinha menos de cinco anos de idade e adorava experimentar roupas compatíveis ao gênero oposto.

Todos riem sem economia e eu lavro a percepção do quanto é importante esta unicidade.

Sinto vontade de abraça-los, impedindo-os de ir-se tão já.

Sinto vontade de pedir ternamente: Continuem assim viu? Alvejando o tempo sem negar alegria neste aprendizado necessário. Precisamos prosseguir meninos com a rareza dessa poesia humana, saltitante, encantosa e cheia de laços, franjas e bordados. É nela onde está o ouro que precisamos lapidar.


Com mais ternura


Zenilda Lua

Outono de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Foram três meses de silêncio, exaustão e valentia. Assuntos enfezados, encontros (de)versos, alinhavos, negociações em cima da hora, telefonemas em dúzia (feito flor), ensaios tensos e sonoras risadas. Nossa pretensão era inserir suavemente TODAS AS LETRAS DE SÃO JOSÉ na 44a Semana Cassiano Ricardo. Convencemos a curadoria, convoquei a família, abandonei a pós e os projetos sociais. Embrenhei-me na formalidade e depois de muitas sirenes invadirem o céu ameaçando gastura de morte... Conseguimos!

Os amigos e apreciadores da literatura compareceram...


Quase todos os escritores e poetas de São José foram citados
Brisa Almeida cerimoniou o evento
Na efetivação de ensaios utilizamos o Espaço Mário Covas

a cozinha da Poeta Dyrce Araújo

faltou as fotos do SESC e do Bola de Meia

Faltou tempo e paciência (as vezes)

...mas conseguimos divulgar e apresentar a beleza e a importância da obra de nossos escritores.
Viva a poesia, a sinergia, o coletivo e o desejo mútuo de novos rumos para a literatura joseense.

28/10/2010

No quesito musiqueiro também apontei meu dedo mindinho e a ANA subiu ao palco com o Coro Jovem arrancando lágrimas de uma platéia desejosa e rara. Declamou-se plena, certeira, Cassiânica, arrepiosamente MORENA.


25/10/2010

Foram 73 emails
17 NÃOS via telefone e encontros
até virar a cadeirante 13 da AJL
Meus crimes foram TODOS por amor a literatura
pode trazer a algema mas deixe-me escolher a cor...nessa altura!

http://www.fccr.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=863:academia-joseense-de-letras-e-reativada-apos-30-anos-de-inatividade&catid=51:espaco-cultural-cine-santana&Itemid=66

“Essa é uma academia diferente das outras, não seguimos o modelo da Academia Brasileira de Letras (ABL), nós estamos formando uma entidade voltada para a produção literária, para o resgate de antigos escritores locais hoje em completo esquecimento. Uma das funções deste grupo será promover a literatura na cidade e influenciar toda a região e o maior número possível de municípios dentro deste modelo de academia produtiva e promotora de novos talentos. Não teremos uma função passiva junto a sociedade e sim proativa, inclusive buscando tornar viável a publicação de obras de autores sem condições econômicas para faze-la”, esclareceu Ottoboni
O estatuto da nova academia prevê o ingresso de somente literatos que tenham atividade constante no cenário cultural e com livros publicados, o que impedirá das vagas serem ocupadas por pessoas sem intimidade e atuação com esse segmento da cultura. Eles ainda deverão residir na cidade e ter o compromisso de promover o conhecimento literário e fomentar o surgimento de novos autores. Também será função da entidade dar visibilidade plena aos escritores locais, tanto em âmbito regional como nacional e internacional".

Júlio Ottoboni
Jornalista científico e Curador da 44a Semana Cassiano Ricardo

Dia da Posse
Continuo araponga do mato batendo a bigorna de ouro.
Possuída de um sonho insensato: que os falsos se desmanchem,
que a poesia prevaleça e que em cada ser manifeste-se ações diárias de bondade, refletidas por desejos: de conhecer, verbalizar e propagar a arte literária com responsabilidade, organização e amor.