domingo, 29 de abril de 2012


Uma pessoa do nosso meio, cuja estima é relevada,  explicitou revolta em relação aqueles que se intitulam Poetas sem o ser. Não estudou Arthur Rimbaud, desconhece Ana Cristina Cesar, Claudio Willer, Torquato Neto, Fernando Coelho, Maria Firmino dos Reis, não sabe lidar com rimas e metáforas? Não pode se intitular Poeta!


Senti a responsabilidade de responder a esta querida pessoa. No começo ignorei mas, depois que vi Leonardo Boff, bem de pertinho, que pedi benção e dei cheiro na sua barba branquinha e sedosa, não sou mais a mesma. Não sou mesmo. Desde terça-feira 24 de abril de 2012 ganhei mais responsabilidade. Etimologicamente, responsabilidade também significa necessidade de dar uma resposta a uma proposta.  E já que estamos condenados a conviver nesta nave-mãe Terra, de sermos preconceituosos, arrogantes, invejosos, exploradores, mesquinhos,  falastrões e cruéis não há outro jeito; ou nos irmanamos ou contestamos.
Também fui burilada a martelo e talhada na pedra bruta, sofri um bocado no principio mas, depois aprendi que, estabelecer tolerância é a forma estratégica de defender a pluralidade.
Estilos de vidas, formas literárias, códigos de conduta, escalas de valores e opções diversas estão no mesmo nível. Tanto aquele que sabe fazer versos lindos, quanto o que escreve coisa-ruim- demais-da-conta merecem viver.
O trabalhador, o ocioso, o sábio, o simples, o esperto, o alienado, o artesão, o lírico, o insuportável todos são igualmente importantes. Ambos convivem, representam valores e, mostram que ainda deve haver  possibilidade de melhora.
É claro que existe os mais excêntricos, excessivos, repetitivos, lustradores do próprio ego. “Para cada tipo de razão um território e uma valia”, concordei com meus botões de casa afrouxada. Lembrei-me de uma citação que meu avô gostava: as palavras DURAS incitam a ira, as BRANDAS dissipam o amargor. Com o advento do google na minha vida,  foi que descobri o autor da frase: Confúcio.
Outro dia estava aplicando um teste numa dinâmica de grupo para jovens e, uma das participantes pediu-me ajuda. O grupo não sabia de quem era a frase: “Tu te tornas eternamente  responsável por aquilo que cativas”.
Fiquei indignada. Como assim não sabiam? Especialmente ela que, é filha de socióloga e motorista leitor, que eu bem conheço os pais!
Não conhecer o Exupéry? Impossível uma coisa dessa!  Arrogante e pretensiosa  dei dicas de leitura, e falei onde poderiam alugar o DVD com a história do Pequeno Príncipe.
No final da dinâmica acontecia um sarau e, onde cada um, se desejasse, poderia  demonstrar suas habilidades. Fizemos um grande círculo no meio da sala e apareceu tocadores de gaita, capoeirista, assobiador, fazedores de brigadeiro, dançadores de rua, leitores bilingues, skatista e até uma garota de mechas azuis no cabelo, boca cheia de dentes e bochechas rosadinhas que, nunca lera o Pequeno Príncipe mas, sabia fazer com papel colorido lindas libélulas de jardim e passarinhozinhos graciosos. Fez dezeninhas delas em minutos, dobrando o papel de forma ágil e assertiva. Generosa, nos presenteou com sua arte e eu fiquei mais certa que,  a vida não precisa ser um vale de acidez, mazelinhas amarelas, um de cada vez. Vamos juntos! Podemos transformá-la numa casa comum, de quintal colorido e flores de cheiros, desfrutada pela convivência humana e bondade de todas as coisas.
Tudo o que vive merece viver e, “se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três começarei a ser feliz”.


Beijos de conduta terna e que Deus continue nos conduzindo pelos seus caminhos de preferência.


As catorze e trinta desse domingo chuvinosinho, estaremos nos reunindo na Capela do Jardim Colonial com a Mulheres do Pinheirinho.

sábado, 21 de abril de 2012


Essa escassez de postagem significou lampejos diversos.
Saraus, cirandas, rodas de leitura, semana da saúde, cuidados com a filha,
Saudade de irmãos.
Conversinha fiada e tempo de delicadeza...
Vou voltar. Haja o que houver eu sempre volto.
Mesmo com pernas reumáticas e coração de ladrilhos, chama exausta na alma
e olhar macerado de incêndio... Estou voltando!

Eu te perdoo por deixar os chinelos num canto impróprio da sala.
Por ter escolhido esse piso cor de amor se amarelando para nosso quintal.
Te perdoo por não suportar meus incensos,
por levar as flores à garagem alegando que o perfume aflige a proximidade dos assuntos.
Perdoo-te pelo cochilar estático e repetitivo da bolsa de trabalho na ponta da mesa e,
TE AMO pelas dobras dócil de sua conduta,
pela sonoridade de todas as músicas escolhidas,
por guardar-me em segredos e esquecer de me entregar o presente de Natal.
Te amo pela confiança, andejos e permanência.
Pela escolha do alho, das frutas e textura do arroz.
Pelas pretensões, desapegos e facilidade aos acessos.
Te amo a ponto de atravessar o universo guardando nas duas mãos a brandura dos teus olhos
e, de pedir a Deus que me pregue na cruz, me queime em fogueira mas nunca NUNQUINHA mesmo
destine-me para longe dos teus cuidados e desejo.

Além do por do sol, outras mini luzinhas e calmaria... para o Poeta Dailor Varela


... Com ele troquei cartas, farpas, abraços, pedidos de amor e receitas de vinho.
Às vezes o achava medonho, desalmado e pretensioso. Na maioria, o MÁXIMO e, ele sabia.
Ainda era segunda-feira bem cedo (20/03/2012) quando recebi o desalento pela notícia de sua internação.
A inscrição no Conselho Regional de Assistência Social me dá garantia de entrada em locais restritos, especialmente Hospitais.
E foi lá que entrei com o coração aos pulos, em meio há tantos ele era ÚNICO no salão das emergências.
Chamei-o pelo nome, acariciei lhe a testa suarenta.
Ele reagiu com um olhar demoroso e palavrinhas curtas, incompreensíveis para, em seguida cair num ressono.
Seu quadro de saúde ainda era estável, “requerendo exames e cuidados” assegurou-me a enfermeira responsável.
Iniciava-se ali um tempo vigioso de incertezas e espera.
Em horas alternadas passei a visita-lo quase todos os dias.
Do setor Verde foi transferido para o Vermelho, o que evidenciava agravo e intensificação dos cuidados.
Contei sua história para equipe médica, Assistente Social e estagiária. Sua importância para nossa literatura e poesia.
Os dias seguidos ao AVC, doses elevadas de antibióticos, desconforto respiratório e descoberta da diabetes,
embotavam-lhe os olhos e, ele no seu sonho florejado de menino birrento que empurra o portão de pinho no paraíso, deu de não reagir aos estímulos. Aquele tiquinho de céu em plena terra cansou-se das agulhazinhas diárias e aferições.
O corte pequenino no pescoço, também chamado de traqueostomia, anunciava o mandato que não admite réplica.
Ele, que era entre os CEM, um dos MELHORES não melhorava e,
decidiu que no domingo (15/04), antes do almoço, ia mesmo encontrar-se com os pais no jardinzinho deles, cuja varanda dar para o poente e, fica de costa para uma bica de taquara, onde redes coloridas do Nordeste dão cheiros e, ficam balançando ao vento.
Tem ainda uma porção de pés de flor enfileirados.
Vaga-lumes e “anjos esbeltos desses que tocam trombetas”, borboletas e colibris, fazem parceria com outras delícias.
Dizem que por lá, nada é temível e, tudo é partilhável; luz, árvores, estrelas, água, coração e saudades...
É bem provável que por essas horas nosso Poeta maior esteja cantando para nós bem assim:

“No novo tempo, apesar dos castigos, estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos.
Pra nos socorrer, pra nos socorrer”.

Acenos poéticos desse povo aqui, Mestre!
Lembranças que marejam o mais seco dos olhos e, uma boa querença danada de grande.


Ela continua compondo meu divino quadro-família.
Sou de cochilos e cachos, ela é vaidosa. Sou toda coração, ela é exata. Gosto de escrever e ela de dançar.
Continuamos parceiras como no tempo que cuidávamos da fazenda de flores.
As minhas eram brancas, amarelas e azul bem dormentinho; flor de malva, bogari, nove horas e alfazema.
As dela tinham cor perpétua e absoluta; flamboyant, carmim, girassol e açaí vivíssimo.
Eu só tinha medo de alma. Sofria contrita olhando as estrelas de claridade baixa.
Ela temia papafigo e, Zé Biró, doente mental que era filho da mulher que pegava menino.
Só bem depois viemos saber que, essa história de mulher que pegava menino era porque a mãe de Zé Biró, D. Leondina, parteira.
Minha irmã é uma orquestra de sentidos.
Corajosa moça de honestíssimas pétalas.
Corta o pé nos cacos, mas não tira o salto.
Nunca falta ao serviço, nem se aborrece quando adio o depósito das minhas promessas.
Quando espremem seu coração viro uma fera aflita.
Agachada na tocaia do sereno nem respiro, só penso em pegar minha espingardinha de soquete e, brincar de cobrir o coisa-ruim com folhas mal cheirosas e segredos de senhas.
Minha irmã é uma extensão de tudo que é favorável.
Repara minhas vestes, e joias de miçangas advindas dos tabuleiros hippies.
Tenta me ajeitar com seus xales finos, suas camisas de carestia e calças de marca que encobrem a brancura fina de minhas canelas.
Vira as costas eu a engabelo. Volto para minhas estampas florais e brincos de capim dourado.
Ela esquece que nasci no tempo de porta-pote e, que ainda sento no cepo de peroba escura que, virou cadeira na sala de casa.
Invés de abajur escolhi luminária de vela amarela com roxo nas bordas, coberta por sementes de cravos, casca de laranja cheirosa e pau de canela.
Minha irmã é uma dádiva. Meu insetinho da sorte.
Seguro no seu braço direito com as duas mãos de cuidados, como na infância irmãzinha e, na parte mais limpa da alma lhe guardo diariamente.
Temos sonhos comuns, gostamos de jardins.
Quando a mãe lhe punha para tomar sol, acomodadinha num cesto que parecia berço, eu ficava inventando que as florzinhas de pereiro que, sombreava o terreiro, falavam contigo e, você punha-se a sorrir com minha fala de raposa espavorida:
“ Faz cara de feliz menina banguelinha, faz cara de feliz...” e você fazia.
Por obediência natural ao esquecimento, não te lembras mais destas passagens. Não faz mal, eu as reinvento. Pois me falta talento para esquecer.