quinta-feira, 27 de junho de 2013



Estamos na estrada da ponte
olhos pregados nas portas da fé
e água de coração 
escorrendo pelos olhos...

sexta-feira, 21 de junho de 2013


"Numa folha qualquer eu também desenhava um sol amarelo".

Hoje não desenhei. Amanheci com um sentimento de contenteza descontente. Um misto de desvanecimento e cuidado.
Abaixou a passagem. Abaixaram as bandeiras. A cidadania foi exercitada.Perseguimos a marcha até a descidinha da ladeira, mas ficou aquele eco espinhoso de hibridez; palavras sem sentido, emoção e vidros. Ficou o Drummond feito um pirralho oportuno a cutucar meus tutanos: "Você marcha José, para onde"?
Seu Pedro não marchava. Ia de carro com o filho e a nora Antônia à um Hospital conhecido na cidade de São Paulo. Finalmente um doador e o tão esperado (há 03 anos) transplante de órgão seria realizado. Seu Pedro chorou quando viu a Dutra empatada. Sua pressão arterial se elevou a ponto de ele sofrer um AVC moderado.
Ouvindo esse relato no segundo atendimento da manhã no plantão social tentei amenizar meu vazio pensando nas análises que Marx e Engels fazem no Manifesto.
Falei para minha filha o quanto precisamos ler mais Sartre, Marilena Chauí, Erick Fromm... deixar a tv desligada.
Precisamos entender a alienação do homem em relação ao homem.
Precisamos estudar mais política. Legitimar nossa querência, nosso brado. Exercitar a arte de argumentar.
São tantas reivindicações, tantos desejos para tão pouco diálogo meu Deus!
Tanta inflação de egos!
"Mesmo a árvore mais desatenta cuida da estrada".
Não cuidei da nossa.
Quero me aquietar mas a esperança é muito mais teimosa que eu.
Paulo Barja, adorei seu poema!
"Abutre é mesmo traiçoeiro".

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Minha Filha!
Antes eu guardava teus potes de guache vazios, os tocos de lápis, as tirinhas sobrantes das cartolinas de cor. 
Chegava a ouvir tua respiração. 
Entregava-te aos anjos que também migraram para melhorar os sonhos. 
E só descansava quando tua voz devolvia a alegria da casa que em silêncio te esperava.
Amanhã não descansarei. Depois do Plantão Social vou pra RUA contigo e com todos os outros de PAZ.


Mais uma vez a Literatura valeparaibana esteve inserida nesse importante acontecimento. 
Espaço Cassiano Ricardo foi nossa casa-abrigo, nosso jardim, nosso riacho cheio de contenteza.
Somente quem desceu a ladeira da principal rua da cidade, escoltada pela Guarda Municipal sabe a importância desse contexto.Alumiamos o indizível. 
                                Foi mesmo uma festa de palavras acredoce bem valeparaibanas!


terça-feira, 11 de junho de 2013

Entre mudança, flor miudinha e outros ocasos.




Por cinco anos no mesmo horário abri a janela de madeira grossa, pintada de bege com gradinha protetiva azul.
Aberta, era como um bom vinho. Enchia-me a alma, adoçava a vista. Os canteiros de rosas na avenida estreita, os ipês enfileirados, os flamboyanzeiros, os quero-queros e os bem-te-vis desafobados, ensinavam-me que “o mundo não é limitado, nós que o reduzimos por preguiça de enxergá-lo”.
O elefante branco, antigo prédio em frente à janela, na sua mudez de alvura até parecia um sobrevivente satisfeito com a alforria do borboletário e também com a corrida dos recrutas em suas cantorias ritmadas: “Sou soldado da Pátria/ Meu Brasil vou defender...” E todos repetiam: “VOU DEFENDER” com voz de fortes.

A luz da paisagem que eu via também era de passagem e, eu sabia.
Sabia que num desses dias ao amanhecer, receberíamos a visita da Ana, do arquiteto Luis Carlos, do Engenheiro Rogério e do Amarildo, o mais ágil pedreiro que usa boné propagando a Texaco.
Projetei minha ausência com ritual e zelo. Obedecendo a ordem harmoniosa de despejo, aliviei o espaço.
Os meninos do setor financeiro apareceram em trio; Reinaldo, Vinicius e João Victor. Com disposição traziam a força dos que chegam a tempo e, cuidaram de transferir a apoucada mobília; um armário de aço, um outro de cor azulada, o extintor de incêndio, três pares de muletas e uma bengala foram todos parar na sala vizinha. A mesa, a cadeira giratória, o vaso de argila com lírio raro, o quadro mural verde com informes-recados e a placa de Assistente Social, o Antônio levou para o novo setor; uma salinha estreita e desavisada, com porta para a rua e sem qualquer moldura para enfeitar a sonolência das paredes.
Meti a esperança na primeira gaveta e lembrei-me das causas que nos estimulam  a amar o novo.
Arrumei a violeta no beiral, a garrafa d’água, o telefone - que agora tem fio-, a impressora, o calendário, o porta-lenço e o aparador de canetas. O computador, os livros, a bíblia e a foto em família.

Já estava quase na hora do almoço quando ouvi as cigarras no açaizeiro. Fui até a porta e vi o manacá entre as pedras cheinho de flor. Julguei-me dona dos ventos celestes e dos risos de Serafins graciosos. Tudo estava certo especialmente pelo jardim das cigarras. Meu avô dizia: “quando há cigarras a festa está bem perto”. E a festa está perto de fato, bem na minha frente beirando a calçada.

Zenilda Lua