quarta-feira, 27 de abril de 2016







Hoje eu escrevo porque sou uma postergada amiudando-se no repúdio de algumas afirmações indigestas.
Escrevo porque uma trêmula tristeza me descompensa.
O sol não doura o trigo e o vírus da zika ainda ganha força para se espalhar doloridamente.
O amigo curte um fascista e já se faz tarde. E já não há diálogo e já não há mais outro remédio.
Escrevo porque dói toda essa mediocridade humana, esse consumismo insano, as ponderações as práticas de Hitler,o amor aos bens finitos, a falta de esperança e de poesia.
Sinto como se já estivessem exauridas todas as cantigas das lavadeiras,o seus cheiros de água e sabão-de-coco, rodilhas de pano, trouxa de roupas e pedras de anil guardadas na touceirinha de capim-santo.
Parece que estamos nos perdendo cada vez mais depressa. Esquecendo nossa genial capacidade de transformação.
De tombo em tombo, de burrice em burrice acabaram com as quermesses de maio e com a algazarra das crianças que brincavam de pegar o arco-íris com as duas mãos.
Se não fosse pela certeza que o reino de Deus está próximo e que Jesus é o caminho, a verdade e a vida, eu me transformaria numa vasilha velha de olhar caído, acocorada no pé do borralho, preferindo tecer esteiras com cipó fino tirado do brejo, a ser gente e ter essa voz de sino grande que não serve para nada. Nadinha!

Se todo animal inspira ternura, o que houve, então, com os homens?
(João Guimarães Rosa)