segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016


Sobre desalentos e importâncias

Posta fotos de todos os cafés tomados
dos sorvetes, açais e sucos de morango de caixinha
curte e comenta a própria foto e
enfatiza que de manhãzinha saiu com o cachorro e pisou no cocô
fala da piscina
das unhas e chapinha
do colo, da boca, da calça de ginástica hiper justa
fala até de como fez amor
e posta e grita
e morde o vidro da janela
e pensa que todo mundo adorou...

Pai, afasta de mim esse cálice, por favor!


sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016


Nude entrelinhas
(para Thaís)
Tem gente que ganha letra de música,
livros, dúzias de girassóis desidratados.
“goiaba madura da beira da estrada”
suco de melão, bolo de leite e
pote de doce da fazenda Mazzaropi.
Mas tem gente que ganha especialmente
a possibilidade de contemplar um retrato.
o único retrato de uma tarde capaz
de gerar sentenças risonhas
e bochechas coradas.
uma chuva de gargalhada, posso assim dizer;
frequente e localizável.
Os olhinhos encolhidos pregados nas ripas do medo,
as pernas temendo a copa das árvores.
Não contive o segredo.
Coisa melhor dessa vida é passear num prado de violeta e ganhar duas duplas de joão-deitado.

foto emprestada do mural de Oswaldo Jr.
Botei pausa nas andanças. Nas correrias, no vuco-vuco e nas intolerâncias diárias.
Prendi-me na alegria dos afetos e nos aromas dos encontros quando dezembro chegou avermelhando todos os flamboyants. Aumentando as filas nos mercados, trazendo as chuvas de verão tão esperadas. Denunciando a corrupção dos políticos, abrindo clareira de espera boa e fechando a malignidade de algumas brechas.
Por moleza de assunto fiz silêncio. Silêncio sombrio até o Natal chegar e nos apresentar a luona mais redonda e mais clara desse mundo.
Conforme os estudiosos há 38 anos não aparecia no céu um brilho tão cheio e diferente. Parecia gritar de contente a danada, desencabulada!
Abri as portas da casa. Embalei saudades. Comprei flores. Fiquei mais tempo com a filha. Lavei cortina e cobri a mesa com a toalha de chita rara. Juntei-me aos amigos, aticei as brasas e caprichei no tempero do peixe pros almoços.
“O amor excede aos entendimentos”. Tudo começou com um anjo. Depois um clarão de luz e um chorozinho amiudado que só foi ouvido por uma jovem simples e por um carpinteiro que cochilava de tanto cansaço.
Da manjedoura aos montes. Da porta dos templos as tentações do diabo. Do mar da Galileia até a pedra do sepulcro onde estava Lázaro. Do nascimento aos dias de hoje muita gente ainda se aperta para chegar mais próximo e ouvir falar Dele. Se emociona e se aproxima não somente para ouvir ou pedir algo, mas para agradecer.
Eu também quero dizer obrigada, Jesus!
Obrigada a todos. Pela paciência e generosidade. Pela boa querência e pela amizade.
Obrigada por minimizarem com seus risos e dizeres as mazelas do mundo.
Sigamos munidos de esperança e alegria. Se eu fosse Nelson Cavaquinho teria escrito essa canção assim:
“ A lua há de brilhar mais uma vez
a luz há de chegar aos corações
do mal vamos queimar toda a semente
o amor será eterno novamente”.
Feliz 2016!