domingo, 30 de novembro de 2008


O sábado começa igual aqueles dias que vamos encontrar a mais amada das pessoas. Uma consulta ao relógio e boto o esqueleto para funcionar. Saracoteio pela casa, molho as plantas, leio o jornal, respondo e-mail, chaveio a porta e sem o poeta vou à casa da sogra (três casas depois da nossa) café farto, leite fervendo (porque o dia amanheceu chuvinoso) manteiga no pão quentinho e dois cheiros na bochecha para compensar a ausência da semana.

A sogra continua sendo minha Samaritana. Dezesseis anos de convívio e nenhuma desistência. Nos acostumamos uma a outra como mãe e filha que se dão bem. Não é de ninguém o bolo que ela guardou para mim, embolora, mas ninguém come.

Às vezes fico empanturrada com seus doces, pudins, suco de couve, purê de beterraba (affh!) O meu biótipo nunca foi recheado e ela jura que preciso engordar “só um bucadinho”.
Amasso o alho que ela me ordena. Pior castigo do mês, enquanto vai me contando das algazarras dos passarinhos, do vizinho que exagera no volume do som, da carestia das frutas, da morte do Caymmi. O sábado se vai sorrindo feito sabiá em dia de colheita. A sogra é uma menina. Um arco-íris que adora fazer ginástica, passar batom, bordar as unhas, dengar a Brisa, encher a lata de biscoito e os meus olhos d’água de amor. (Zenilda Lua)

sábado, 29 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

domingo, 9 de novembro de 2008

Isso tem que ser Assim?


Flora sentiu o lampejo de um crisântemo disfarçado e conciso. Abriu as comportas da alma e se represou. Cheirava estrela aquele crisântemo, mas Flora esqueceu que estrelas são inatingíveis e se entregou a música que ele trazia nos olhos especialmente ao arco-íris pendurado em cada dedo. Não decretou segredo, nem hesitou. Degustou o sumo mais próprio e escutou Djavan enquanto bebia licor de amora:

“Por ser exato o amor não cabe em si/ por ser encantado o amor revela-se/por ser amor invade e fim”.

Ela sabia de cór o abecedário daquele som. Inscreveu-se na pós, acendeu fogueiras, botou roupa nova, arrumou sobrancelhas, cuidou das flores, comprou toalha vermelha, cingiu o tempo de sorte e desenhou crepúsculo com bálsamo, sonhos e traquejos.
Flora não se atentou as noites de festas que agora eram de latejos nem para a luz e sombra que deu de transbordar uma quimera desconhecida e solitária, tão pouco aos gestos de reinos ardentes e cores diversas. Guardou o Djavan na segunda gaveta enquanto, checa e-mails, estoicamente cuidadosa.

Entende o propósito cantante de um paraibano chamado Francisco que arranca a lua da sua ronda ao dissertar com voz de gramofone e rosas:

“Isso que não ouso dizer o nome
isso que dói quando você some
isso que brilha quando você chega
isso que não sossega e me desprega de mim
isso tem que ser assim????”



(Zenilda Lua)