sexta-feira, 30 de maio de 2014


Ele não revidou. Foi logo desenvolvendo a alegria que lhe é inata: “Rádio-cirurgia Doutô? Vambora então! Quero é acabar com esses bicho tudo”. O médico radioterapeuta sorriu. Eu fiz silêncio e fiquei com vontade de fazer mais perguntas sobre as novas metástases, mas considerei as orientações e guardei a curiosidade no embornal dos excessos.
Voltei para casa naquela primeira quinta-feira com outro tipo de certeza: Precisava ser mais persistente na fé e perder o medo de dirigir em São Paulo. Sempre me assustei com o tamanho da cidade, o trânsito, o mundaréu de gente, a frialdade do concreto e a danação frenética de todo o vai-e-vem. Falei pra Deus: "Pai eterno como vou conseguir esgarçar todos esses guetos e fortalezas? Como vou dar conta de chegar ao nosso destino sem me perder, sem esquecer os atalhos, as setas, os detalhes das entradas enviesadas"?
O terceiro subsolo do Hospital da Beneficiência Portuguesa mais parece um coração de um milhão de artérias pulsando na agoridade das horas. Dispensei o pensamento logístico de partidas e chegadas. O sossego veio simples e integrado. Os amigos mais uma vez tomaram partido e fizeram de nossa causa um revezamento consensioso. Disponibilizaram-se sinceros e amorosos. Remanejaram suas agendas e compromissos. Transferiram os afazeres para outros dias e horários e como num portal de delicadezas e bondades transbordantes efetivaram a prática mais cuidativa que vivenciei.
Oswaldo Jr. Lucas, Ricardo, João Gambini, Paulo Henrique todos ali ofertando companhia e cuidados. Valeria e Fábio Ramos na condução assertiva, na sala de espera, nos corredores iluminados, nos almoços bem corridos e nas risadas hospitalar. Só precisei faltar no trabalho duas vezes. Fui acudida diariamente por anjos risonhos feitos de amor genuíno que levavam, traziam e cuidavam do meu precioso bem. Fazendo positivo todo o procedimento novo. Fechamos o ciclo. O desconforto foi mínimo. As dores pontuais, mas suportáveis. O cansaço só um pouco e a vontade de vida abundante.
Devagarinho bem de porçãozinha volta o aroma da poesia. Arejos da providência divina. Clarão menor de temor e crivos. Cantiga de passarinhos no açaizeiro e gerânios encomendados para enfeitar a janela do quarto...
Minha alegria também consiste em vê-lo descer a ruazinha de pedra para buscar o pão, pisando na barra do moletom surrado que sem pretensão vai enxugando o sereno das calçadas silenciosamente.
Observo-o e amo-o com o mesmo zelo dos que em tudo aprendeu a criar esperança.

Um abraço longo e apertado em TODOS.
Saudades muitas.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Amor Meu!
Ainda bem que não tirei as sandálias. Não guardei a espingardinha de brinquedo nem a armadura que protege o peito das setas.
Irei para a batalha com você de novo. Dessa vez os contrários estão enfileirados e parecem que adquiriram outras táticas, mas não me abato. Segurando sua mão eu estou tão pronta quanto Josué e se depender de minha fé as muralhas também irão cair. Com a graça de Deus voltaremos mais fortes. Sentaremos na fonte para expiar a floração dos ipês da Cidade Jardim, amarelíssimos!
Buscaremos na serra nosso manacá e plantaremos nas janelas da casa reservada todos os crisântemos e azáleas que você escolher.
Escreveremos num letreiro bem grande o nome de todos os familiares e amigos com letras bonitas e brilhantes para nunca esquecermos da torcida e do amor deles nesse tempo de ternura e ofertas. E bem do ladinho, já beirando a ponta o seu nome, o meu e o de Brisa. Unidos pra sempre.
Um abraço cheiroso em TODOS.
Deus seja louvado, diariamente.

domingo, 30 de março de 2014


Ela me chama de ‘gatíssima’ e protege-me com suas cantigas, orações, leituras midiáticas, pedidos e  risadas de engraçamento. Eu metade gente e metade taquara coberta de musgo retrançado sempre caio nas suas conversas e me desconcentro de tudo que é sério. Declamo poemas, releio os salmistas, invento paródias, cantoriazinha de renovo. Vamos à cozinha; preparo hambúrguer de soja ela corta abobrinha pro  refogo. O arroz fica pronto, a alface lavada, o amor e os sonhos se misturando num céu de futuro.  Vai chegar um dia que a ausência dela vai encaracolar ainda mais meus cabelos desgrenhados, vai fazer do meu coração mil cacimbas de saudades, vai cavar meus olhos até desbotarem com a água salobra que a chuva não faz.
Aí, aí meu coração de Jesus sempre louvado!

Mãe cativa, manquitola, querendo prender o tempo numa fragrância encantada, para quando precisar do invisível encontrá-lo na bordadura das coisas. Especialmente na flor que ela sempre carrega no cabelo e larga a pobrezinha adormecida sobre a banqueta do quarto ou no abajur da sala.



sábado, 15 de fevereiro de 2014




Hoje minha Trincheira acordou mais silenciosa, mais completa de vazio. Ele que foi o líder mais respeitado da comunidade, que nos viu pequeninos e nos aconselhou com seus modos paternos. Ele que era defensor dos fracos, defensor da terra, das águas. Incansável ajudador de todos cansou-se de esperar a chuva demoradeira e foi se encontrar com sua amada Lita.
Ele que me encomendou tantas cartas para seu filho Antônio, conheceu São Paulo e morou em Guarulhos. Por muito tempo só usava calças UStop. Uma chiqueza pra roça!
Nos finais de semana eu sempre ligava para saber como estava. Ultimamente estava mais reclamão, saúde afracada, aperreava-se com o calor que sempre foi nosso. Em janeiro nos abraçamos pela última vez. Disse-me que o cansaço lhe vencia inteiro, talvez não aguentasse a compridez do tempo. Apertei sua mão e lhe acarinhei a cabeleira prateada. Sentei-me na soleira da porta como fazia quando era menina. Perguntou-me da saúde do Poeta e mandou-nos perseverar. Disse que Deus é bom e nunca desampara seus filhos amados. Eu disse amém. Ele ficou calado. Sua voz era terna e um pouquinho rouca devido às dezenas de anos em tragos, mas suas palavras tinham a clareza dos satélites raros. Não bebia café, ainda fumava e tinha mania de cuspir no chão, para o lado de lá da calçada. Quando as cisternas das casas estavam beirando a metade, ele convocava os responsáveis municipais e rapidamente os carros pipas eram enviados. Ele cuidava dos reparos em todos os detalhes; energia elétrica, telefonia rural, agentes de saúde, eleição e outros recados. Conhecia todos e chamava cada um pelo seu nome ou apelido.
Foi um mestre. Um sabedor popular. Um incansável buscador de melhorias rural. Um bonito anjo idoso que atendeu o chamado celeste e viajou colorido e íntegro. Satisfeito e tímido. Deixando a rede e a cadeira de balanço na sala deserta. Ambas pendidas, descompensadas e esvaziadas de riso.
Osmundo Amâncio de Morais as vezes esqueço "que a gente é feito para acabar" e dou de doer e dou de chorar...

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Quando apareceu a terceira matiz tumoral ofuscou meu sobre, meu quando, minha cantiga de  resolver agudos.  Entre céu e cactus andei sonâmbula e descalça procurando esmero para habituar-me as exigências da novidade. Nas cores de cada tarde conheci a urgência de se ter esperança, fé e bom ânimo.  Conheci o grande sol que pendia na barra do desconhecido e as primícias dos aromas que atarantam. Conheci também as flores de Deus; nítidas, plácidas, confiosas e trescalantes. Em especial  conheci  um futuro de serenidade conseguido pela coragem de  aceitar o que se passava. Oito meses se foram. Quase tudo em nossa vida mudou ou foi adaptado para as considerações da realidade. O tratamento convencional; farmacológico e quimioterápico estão sendo mantidos com rigor e assim será. O nutricional, suplementar e espiritual dentre outros afetos, tem sido suprassumo de boas garantias e surpresas. Por consenso médico não haverá cirurgia neste semestre, mas ainda assim estamos felizes pela certeza da bem aventurança e cuidados. Continuarei ao lado dele,  amiúde, vigilante, ocupada,  grudada feito virose amorosa. Repleta de fé e desejando saúde continuarei. Continuarei recolhendo o elixir das auroras, esperando em Deus o momento de tirar todo o vestígio de câncer da cabine dos nossos olhos.
Um beijo em TODOS!
Estamos bem, felizes e bem.
Gratidão sem cotas, por TUDO.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

De 24 de dezembro a 14 de janeiro estivemos nordesteando. Ficamos em Olinda por cinco dias depois fomos para João Pessoa ficamos mais sete dias lá e o restante na casa materna em nossa cidade Patos. Com os irmãos visitei o sítio da infância, bendisse os boizinhos de tia Maria, chegamos até as margens do rio Espinharas. Rio que já foi nosso brinquedo, nossa piscina, nosso pesqueiro, nossa academia de natação... Nossa certeza de bem aventuradas bênçãos e prontidão divina. Pular da pedra no poço requeria espírito de alegria e coragem, mas isso nós tínhamos de sobra, tínhamos tanto que a luz das coisas instintivas nem alcançava os mistérios. Nosso rio agora está quase morto como a maioria dos rios no Brasil. Tem odor impróprio logo o esgoto da cidade desemboca em suas margens,  mas para a minha alma ele ainda conserva  o cheiro do meu tempo de menina.  "Tem horas antigas que ficam muito mais perto da gente do que outras. Viva Deus e as férias. Viva a saúde do Poeta e a família-amigos que nos enche de auroras como se o tempo todo inteiro só fosse feito de manhãs!









segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Suspendi o tempo dos receios e das hesitações. Dos infusores e leucopenia elevada. Dos corredores cheios de médicos, das seringas e uniformes brancos. Das visitas nutricionais, oncológicas e hospitalar.
Coração agreste mais parece nuvem circundada de sublime. A irmã toda cuidadosa tratou logo de emprestar a maior e mais verdolenga mala-de-viagem. Desembaraçada rebusco cada ponto, cada canto. Tudo amiúde; a beiradinha da casa descascada, o pé de malva-roxo esparramando-se na parede da cozinha, a flor de alho na lata de óleo, a mesa sem toalha, o café amargo com bolacha sete-capas, as balas de alfenim no pote furta-cor. A algazarra convidativa dos irmãos, a mãe o tempo todo oferecendo copos de água, de sucos e outras coisinhas açucaradas.
Partiremos na brevidade de uma dessas tardes porque a nossa arvorezinha de livros - arrumada desde o primeiro dia deste mês - relembra que já é Natal outra vez. Aqui em casa sempre preferimos celebrar esta data de uma maneira bem particular. Sem luzes ou guirlandas, sem presentes, comilanças ou fuzuê.
Prefiro pensar que Jesus naquela noite de nascimento, numa estalagem simples e poeirenta chorou a falta de uma coberta e seu choro foi ouvido apenas por uma corajosa moça e um carpinteiro todo cansado e sonolento.
Nunca soube ao certo os detalhes daquela hora madrugosa . Os relatos dão conta que havia homens trabalhando; pastores cuidavam de suas ovelhas ali por perto e tudo que eles queriam eram que nenhum imprevisto acontecesse. Sou quase um pastor daqueles. Cuidadosa do meu rebanhinho e desejosa que tudo de mais tranquilo aconteça.
Que esta passagem de tempo ocorra serenamente, amorosamente, com abundância de alegrias e saúde. “Se as panelas e a cama forem de ferro, o resto Deus provê”.
Queridos Amigos e Familiares!
Sou toda gratidão pela amizade de vocês, cuidado, bem querer e bom coração.
Para compensar as incertezas apresentadas bem no comecinho do primeiro semestre, estaremos nordesteando dispostos à benignidade, ao irrisório e doçuras.
Um abraço apertado, irmanado e fraterno. Deus os proteja em TUDO.

A vizinha que vive brigando com o namorado briga de novo e por telefone. Alta madrugada começa o tirinete de gritos. Passa mal dos nervos a criatura e maldiz o cachorro, chora, quebra o porta-retratos, rasga a sacola que ele deixou pendurada na alça do portão. Funga com o nariz mais choroso do mundo e disseca palavrões com os espasmos de cobra bem ferida. Levanto discreta, em silêncio de morte, pego um copo d’água. A luz da lua clareia toda a cozinha. Olho para os fios que perpassam nossas casas as andorinhas e pardais já não pousam, as gotas da calha há tempo cessaram e nenhum gato habita os muros. Todos dormem. O coração da vizinha continua sangrando na estampa floral de um agonioso sábado. Coisa de seiscentos Lúcifer, coisas de quem nunca leu o salmo vinte e três nem recebeu um saquinho de pão cheio de pirulitos ou tomou partido da floração de alegria dos ipês amarelíssimos. Coisa de quem pensa que o amor se molda com pedradas, de gente que dispensa o convite da cachoeira e continua perdendo tempo com a bica rala.
Sigamos confiantes para uma semana boa. 

Que o cheiro dos Ventos Antigos nos guarde e Deus nos renove com belas surpresas. 
Beijos em TODOS.

domingo, 24 de novembro de 2013





Senhor se for da tua vontade devolve nossas pocinhas de água clara para chapinharmos  com pés descalços sem temor de febre. Devolve nosso cheiro de azul nas auroras de vossos frutos, devolve nossas noites sem luz elétrica, nossas brincadeiras de rodas e de roubar bandeiras, nossa bacia cheia de espuma e saúde. Devolve Senhor se for da tua vontade; nosso cálice com cidra e os gominhos de mel na colherinha de prata. Devolve também nossa taipa e pandorga, nosso consolo de açúcar fininho e caramelizado.
Devolve Senhor o ardor da sarça e o cordeiro no lugar de Isac. Devolve alguns cômodos de minha alma que se foi na enxurrada do tempo. Devolve por favor, o terreirinho cercado de malva e o alecrim da infância na latinha de doce-de-goiaba. Devolve-me se possível os detalhes das estrelas francas e a lembrança de minha avó atiçando as brasas. Devolve-me Senhor, se for da tua vontade...

sexta-feira, 22 de novembro de 2013



Ela esquece o celular no carro e me chama de gatíssima.
Vive fotografando pedaços do céu, libélula e pó de café usado .
Com frequência desarruma o quarto, mas tem conduta impecável.
Gosta de assuntos sonoros, de coisas simples e de natureza.

“Seu amor reluz em mim como riqueza, asa do meu destino, clareza do tino e pétala...”

segunda-feira, 18 de novembro de 2013


Anos a fio essa peleja. Esse cativeiro, esse flautim tristonho, essa lâmina encostada no meu peito. O Poeta transferiu pros versos seu lamento secreto. A Brisa expressou o pesar dela em conversas distintas e tentativas de alforria. Sem êxito. Os bicos entristecidos continuam experimentando a ração presa ao destino. Eu que sou mais maligna de todos joguei mel e veneno, desprezei o trato, falei das amarras e maldições, tentei mil diálogos, desandei chorona, maldisse a natureza humana de gênesis a apocalipse. Não houve proveito. Prometi denúncia, perdi a doçura e suspendi visitas. Nada adiantou. Continuam as trocas, os piados tristes, os passarinheiros e suas bicicletas mal pintadas são os visitantes mais esperados. Nos dias de sol quando as paredes se tornam um braseiro é muito pior. As gaiolas ganham burcas e camuflagem de TNT azul- ardósia. Sofro como se o meu pai nunca tivesse me amado, como se a chuva não fosse cheirosa. Sofro querendo um longe para fugir desses gestos que me desconsolam. Lembro-me do meu pai defensor de pássaros, chapéu de palha, alpercata de sola plagiando cantigas em carrocinha de doce:
“O que os olhos não veem coração não chora. Coração não chora. Coração não chora".
Um abraço apertado com palhinhas de capim-dourado em TODOS.

sábado, 16 de novembro de 2013




Desenho no papel de pão uma flor de quatro pétalas enquanto ele corta tomatinho e cebola para a sopa escutando rádio. Os cachorros do vizinho da frente continuam latindo com irritante ênfase.
A calçada, garagem e quintal estão cobertos de folhas, tão amarelas até parece que caíram do sol. Quatro dias na estalagem hospitalar avolumaram-se os afazeres domésticos. Estávamos desejosos de casa, amargando a saudade prévia de cada canto. O proveito de tudo são os saberes que ganhamos ao longo desses apartes. Sabemos que os amigos estão na provisão do bem restabelecendo o fio de tudo que é saudável. Os sobrinhos são nossas tirinhas de ouro no visitar das tardes. Os irmãos continuam sendo “meus- minino- pequenos” e a mãe um sorriso na porta esperando notícias. Sabemos também que a poesia não ganha pulsar doloroso mesmo com o reaparecimento das águas tóxicas e a permanência dos tumores.
Nesse tempo a horta engravidou a roseira. Está pesada de botões roxos. A passarinhada continua cantoriando no pé de limão cravo.
Voltar para casa é diferir do resto. É sentir que o cheiro da chuva supera em muito o cuidado dos enfermeiros. É livrar-se de aguardar a febre, é deixar de temer o obvio e se recompor no meio dos alegres. É contemplar a luz invisível da lua cheia que, mesmo sem aparecer no céu a gente sabe que está lá.
É dar graças a Deus e pensar em Jesus.
“Por séculos e séculos o coisaruim nos cega com embustes. E o corpo dele na cruz suspenso. E o corpo dele sem panos”...
Oh Salvador meu, continue olhando por nós viu? Eu te adoro!
Obrigada a TODOS amigos e familiares pela primícia sincera do afeto que vem de cada UM e nos protege.
O que mais quero é saúde para envelhecer ao lado dele, meu amoroso dono.



As panelas de casa permanecem brilhosas e bem guardadas.
A estradinha da caminhada deve sentir falta dos seus passos miúdos e apressados.
O vizinho disse-me que deu falta dele pelo silêncio do portão e do rádio desligado. 
O manjericão não me disse nada, mas também não recebeu mais as cascas de mamão, inhame e sementes de goiaba.
Voltou para Hospital a criatura!
Uma insuficiência hepática moderada levou-o novamente aos apartamentos do Vivalle, as agulhadinhas para acesso antibiótico, soro e outros puxões no braço fino.
Estamos juntos feitos perfuminho do mesmo grude. Não o deixo por nada. Só um bocadinho pela manhã para dar meu plantão, mas ao iniciar à tarde já encosto com bagagem e tudo. Brisa idem. Somos duas vigilantes, amor e cuidadoras. Certas que em breve haverá maná e queijadinha nobre, néctar de romã e cocada de coco feito milagres-de-festa para Todos nós.
Estamos limitados à internet. Desculpem-nos pela falta de resposta para as mensagens inbox, os recados e amorosidades. Em breve tudo se normalizará com a graça de Deus. Um abraço em TODOS e gratidão maior. 13/11/2013.

sábado, 9 de novembro de 2013

Espero-te para um dedo de prosa, para um abraço certeiro, prum gracejo, pra repartirmos uma bala de coração.
Espero-te para lermos os poemas da Adélia, do Manuel, da Dyrce, Paulo Barja, Josie, Mirian’s, Patativa, e  Juracy.
Espero-te descalça  na cadeira mais limpa, com olhar de véspera alma enfeitada de miçangas e cocada carmesim.
Se vieres para às 14h
Desde as 11h serei mais feliz!
Espaço Cassiano Ricardo – Bienal do Livro
Poesia Por TODOS as 14h.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013



E Deus atendeu meu pedido. Estendeu sua mão, guardou-me dos males e livrou-me das dores...
( 1.Crônicas 4.10)
A poesia prevalece em mim como os lagartos nas pedras...
A cerimônia de abertura aconteceu às 19h do dia 1º de novembro, no Pavilhão Gaivotas, para autoridades e convidados. Na ocasião, foi entregue o prêmio “Cassiano Ricardo” da Fundação Cultural à família de Helena Weiss, como reconhecimento à contribuição da folclorista para o incentivo à cultura joseense.

Nos fins de semana (dias 2 e 3 e dias 9 e 10), o evento ficará aberto das 10h às 22h. Já durante a semana, o funcionamento será das 9h às 22h. A promoção está a cargo da Prefeitura de São José, por meio da Secretaria Municipal de Educação, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e da AJFAC (Associação Joseense para o Fomento da Arte e da Cultura).

De 24/10 a 10/11/2013 A cidade se enfeita de ARTE e CULTURA para todas as idades.


Quando você me amava
eu andava incompleta de vazios
em tudo havia um sentimento molhoso que imitava o cintilar dos lírios brandos
aprendi nesse tempo de azul mais do que tudo
aprendi também de milagres, de pássaros,
de cânticos, miçangas e de flor.
aprendi palpitações que granjeiam os olhos
aprendi de calêndula e de nunca bordar lágrima em angústia
- porque não existia uma página, um filete, uma nesga sequer de angústia -
tudo era germino, orvalho, lampadário advindos das sonatas
que os Querubins faziam nos campos de Salomão.

terça-feira, 3 de setembro de 2013



Mãe, no domingo fui às lojas americanas, eu e o Poeta. Vi essa lavanda e pedi para ele comprar. Quis sentir o seu cheiro Mãe, lembrar como seu perfume era escolar e pacífico.
Lembrei-me também de quando a senhora desidratava folhas para enfeitar as paredes.
A senhora nunca teve semblante grave Mãe, por isso em tardes de chuva brandinha eu te lembro. Lembro-te recitando alguns mandamentos, esquecendo-se de cuidar dos dentes, perdendo chaves, guardando fitas de cabelo na bíblia.
Lembro-te dizendo que Deus prover tudo: alimento, sonhos, saúde, calor de velas e pés de chá.
Hoje sei; Ele prover isso tudo e muito mais Mãe.
Tiro a lavanda da caixa, abro a tampa e sinto seu cheiro. Peço para Brisa tirar um retrato. Amanhã é dia de quimio e vou ter que desligar.
Lembre-se que ainda tenho medo de almas e não aprendi a escapar das lágrimas como faz as boninas.

Um abraço amoroso em TODOS.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Desabafo de UMA iniciante no Outono de Noventa e UM





Por desatino insalubre resolveu matar-me
Queimou os bordados que eu pregava nas cartas
Quebrou lembranças e meu alguidar
Fez umas amarras delicadas
 com suas mãos finas de folhas e versos
e  vedou meus olhos
esvaziou a cuia e meu sol
expulsou do alecrinzeiro a mariposa que chamava chuva
passou chá de arco em todo meu corpo

e me cremou viva, vivinha.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Tautologiando



 
“De repente o riso fez-se pranto”.

Tínhamos em nossas vidas um câncer agressivo e letal.
Mesmo cercados de cuidados médicos, informações, amigos e afetos não ouso dizer que foi fácil os primeiros dias, porque sou sincera.
Chorei como chora os sem pátria, os sem teto, os famintos e desesperançosos, os apoucados na fé.
Chorei ao acaso, no sereno, nos canteiros e praças, consultórios, igreja, nos plantões e sinais fechados.
Chorei feito Samaritana com seu cântaro e sede na secura do poço.
Até que numa madrugadinha, sentada ao chão no quartinho do fundo, relendo os salmistas, com uma caneca velha de chá frio na mão esquerda, vejo a Brisa entrar de mansinho, sentar-se ao meu lado e falar bem baixo:
- Escrevi uma coisa e musiquei pro papai, quer ouvir?
Fui até seu quarto e escutei aquela vozinha açucarada cantando para si “o sol já vai nascer menina, é tempo  de correr, sorria”.
Abracei-lhe, beijei-lhe os cabelos ondulados. 
Cantei com ela. Prestando atenção na melodia, no papel rabiscado com a letra da canção, nas suas mãozinhas finas conduzindo o violão que eu e o pai lhe demos de presente quando ainda era um tiquinho de gente.
 Entendi os desígnios de Deus na nossa história e tomei como graça todo o acontecido.
Na manhã seguinte o Poeta juntou-se a nós numa cantar feliz e emocionado.
Estávamos repletos. Deus nos multiplicava, “nos conduzia e nos protegia com suas mãos fortes”.
Essa música passou a ser nosso hino-família.
Nossa primeira estrela a brilhar naquela noite junina, gélida e chorosa.
Superamos o temor, o vai-e-vem das dores miúdas. As internações, os medicamentos de hora em hora, o centro cirúrgico.
Superamos a perda de peso, o estancar das águas tóxicas, a descoberta da terceira lesão, a quimioterapia e a nova porção alimentar que sustenta a vitalidade das promessas.
Estamos em campanha há cinqüenta dias e, os amigos não se apartam da gente. 
Um bando de LINDOS. 
Nenhum menos rouco em vigília e preces, abraços, entrega e risos, chamando o MILAGRE para compor este acordo.
 
“Estrelas brincarão de roda/ cometas tocarão baião/ corujas olharão fogueiras, esquilos e bolhas de sabão”...

Saúde com abundância e sorte.
 
http://www.youtube.com/watch?v=1jvGpd15D3Q
 

quinta-feira, 27 de junho de 2013



Estamos na estrada da ponte
olhos pregados nas portas da fé
e água de coração 
escorrendo pelos olhos...

sexta-feira, 21 de junho de 2013


"Numa folha qualquer eu também desenhava um sol amarelo".

Hoje não desenhei. Amanheci com um sentimento de contenteza descontente. Um misto de desvanecimento e cuidado.
Abaixou a passagem. Abaixaram as bandeiras. A cidadania foi exercitada.Perseguimos a marcha até a descidinha da ladeira, mas ficou aquele eco espinhoso de hibridez; palavras sem sentido, emoção e vidros. Ficou o Drummond feito um pirralho oportuno a cutucar meus tutanos: "Você marcha José, para onde"?
Seu Pedro não marchava. Ia de carro com o filho e a nora Antônia à um Hospital conhecido na cidade de São Paulo. Finalmente um doador e o tão esperado (há 03 anos) transplante de órgão seria realizado. Seu Pedro chorou quando viu a Dutra empatada. Sua pressão arterial se elevou a ponto de ele sofrer um AVC moderado.
Ouvindo esse relato no segundo atendimento da manhã no plantão social tentei amenizar meu vazio pensando nas análises que Marx e Engels fazem no Manifesto.
Falei para minha filha o quanto precisamos ler mais Sartre, Marilena Chauí, Erick Fromm... deixar a tv desligada.
Precisamos entender a alienação do homem em relação ao homem.
Precisamos estudar mais política. Legitimar nossa querência, nosso brado. Exercitar a arte de argumentar.
São tantas reivindicações, tantos desejos para tão pouco diálogo meu Deus!
Tanta inflação de egos!
"Mesmo a árvore mais desatenta cuida da estrada".
Não cuidei da nossa.
Quero me aquietar mas a esperança é muito mais teimosa que eu.
Paulo Barja, adorei seu poema!
"Abutre é mesmo traiçoeiro".

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Minha Filha!
Antes eu guardava teus potes de guache vazios, os tocos de lápis, as tirinhas sobrantes das cartolinas de cor. 
Chegava a ouvir tua respiração. 
Entregava-te aos anjos que também migraram para melhorar os sonhos. 
E só descansava quando tua voz devolvia a alegria da casa que em silêncio te esperava.
Amanhã não descansarei. Depois do Plantão Social vou pra RUA contigo e com todos os outros de PAZ.


Mais uma vez a Literatura valeparaibana esteve inserida nesse importante acontecimento. 
Espaço Cassiano Ricardo foi nossa casa-abrigo, nosso jardim, nosso riacho cheio de contenteza.
Somente quem desceu a ladeira da principal rua da cidade, escoltada pela Guarda Municipal sabe a importância desse contexto.Alumiamos o indizível. 
                                Foi mesmo uma festa de palavras acredoce bem valeparaibanas!


terça-feira, 11 de junho de 2013

Entre mudança, flor miudinha e outros ocasos.




Por cinco anos no mesmo horário abri a janela de madeira grossa, pintada de bege com gradinha protetiva azul.
Aberta, era como um bom vinho. Enchia-me a alma, adoçava a vista. Os canteiros de rosas na avenida estreita, os ipês enfileirados, os flamboyanzeiros, os quero-queros e os bem-te-vis desafobados, ensinavam-me que “o mundo não é limitado, nós que o reduzimos por preguiça de enxergá-lo”.
O elefante branco, antigo prédio em frente à janela, na sua mudez de alvura até parecia um sobrevivente satisfeito com a alforria do borboletário e também com a corrida dos recrutas em suas cantorias ritmadas: “Sou soldado da Pátria/ Meu Brasil vou defender...” E todos repetiam: “VOU DEFENDER” com voz de fortes.

A luz da paisagem que eu via também era de passagem e, eu sabia.
Sabia que num desses dias ao amanhecer, receberíamos a visita da Ana, do arquiteto Luis Carlos, do Engenheiro Rogério e do Amarildo, o mais ágil pedreiro que usa boné propagando a Texaco.
Projetei minha ausência com ritual e zelo. Obedecendo a ordem harmoniosa de despejo, aliviei o espaço.
Os meninos do setor financeiro apareceram em trio; Reinaldo, Vinicius e João Victor. Com disposição traziam a força dos que chegam a tempo e, cuidaram de transferir a apoucada mobília; um armário de aço, um outro de cor azulada, o extintor de incêndio, três pares de muletas e uma bengala foram todos parar na sala vizinha. A mesa, a cadeira giratória, o vaso de argila com lírio raro, o quadro mural verde com informes-recados e a placa de Assistente Social, o Antônio levou para o novo setor; uma salinha estreita e desavisada, com porta para a rua e sem qualquer moldura para enfeitar a sonolência das paredes.
Meti a esperança na primeira gaveta e lembrei-me das causas que nos estimulam  a amar o novo.
Arrumei a violeta no beiral, a garrafa d’água, o telefone - que agora tem fio-, a impressora, o calendário, o porta-lenço e o aparador de canetas. O computador, os livros, a bíblia e a foto em família.

Já estava quase na hora do almoço quando ouvi as cigarras no açaizeiro. Fui até a porta e vi o manacá entre as pedras cheinho de flor. Julguei-me dona dos ventos celestes e dos risos de Serafins graciosos. Tudo estava certo especialmente pelo jardim das cigarras. Meu avô dizia: “quando há cigarras a festa está bem perto”. E a festa está perto de fato, bem na minha frente beirando a calçada.

Zenilda Lua

domingo, 12 de maio de 2013



Ela me chama de Mãe e protege-me com suas cantigas, orações, leituras midiáticas, pedidos  e  risadas de engraçamento. Eu metade gente e metade  taquara coberta de musgo retrançado sempre caio nas suas conversas e me desconcentro de tudo que é sério. Declamo poemas, invento paródias, cantoriazinha de renovo. Vamos à cozinha;  preparo hambúrguer de soja  ela corta  abobrinha pro  refogo. O arroz fica pronto, a alface lavada, o amor e os sonhos se misturando num céu de futuro.  Vai chegar um dia que a ausência dela vai encaracolar ainda mais meus cabelos desgrenhados, vai fazer do meu coração mil cacimbas de saudade, vai cavar meus olhos até desbotarem com a água salobra que a chuva não faz.
Aí, aí viu?
Mãe cativa, manquitola, querendo prender o tempo numa fragrância encantada, para quando precisar do invisível encontrá-lo na brandura de todas as  razões. ..
Especialmente na flor pro cabelo adormecida sobre a banqueta do quarto ou do abajur da sala.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Travesseiro dos meus braços




Molecota e primeira de uma prole de seis, eu dava de botar reparo na mãe. 
Na curteza dos tempos, aparecia  à criatura barriguda de  novo! Umbigão sobrepujando na encosta da blusa de malha listrada.
Decretada a feita, eu tinia de raiva. Permitia-me silêncio de morte por várias semanas sem a menor paciência de aturar outra vez os enjôos até pelo cheiro de coalhada e, os longos cuidados, caprichos, repouso na normalidade do processo pós-parto.
E, lá ia a mais velha magricela no amiudar das horas, cuidar da pequerruchadinha, balançar na rede, acordar bem de manhãzinha, lavar fraldas de pano – tirar aquelas coisinhas gosmentas, esverdeadas e mal cheirosas sem engulho, era de tudo impossível! Eu engulhava até ficar tonta, mas prosseguia. Depois lá ia a mamulenga cautelosa quebrar a frieza da água para banhozinhos amornados na bacia branca de ágata. Imitar os piados da passarinhada, inventar cantigas e toadas sem nenhuma vocação, só para distrair aqueles tiquinhos de gente agalegados, olhos puxados para o mel mais claro e cabelos amarelinhos feitos cor de milho novo. Dava até gosto a robustez das bochechas e a brancura dos  bumbuzinhos cheios de talco barato e, beliscãozinhos que eu mesma dava levantando suspeita de infinito amor.
- Cadê a broinha que tava aqui? – eu dizia cocegando  a mãozinha rechonchuda que me agarrava aos cabelos, encolhendo o corpinho na maior risada. –  
- O gato comeu foi?
-  E cadê o gato?
- Saiu por aqui, passou por aqui, descansou aqui e...
- Achei o gato! – eles gargalhavam e, eu aproveitava para estender a porção alimentar: mingau de araruta em colheradinhas... Comiam tudo até arrotar num suspiro doce.
Eles eram meu recesso, minha aflição nascente, minha privação de arbítrio, meus desvios de infância e brincadeiras. Mas especialmente eram meus anjos sem andor, meus motivos de altos risos. Minha roda de conversa, minha música e terapia. Eles eram meus brinquedos saudáveis, minha testa suada, meu coração cheio de fitas e filó.
Nunca ficavam doentes. Nem de catapora, nem de sarampo, rubéola, dengue, caxumba, fadiga. Nem por falta de vacinas. Febre, só muito de vez em quandinho na floração dos dentes.
Eles eram meus. Meus amores, alegria, devoção e garantia. E ainda o são. São meus lumes mais sublimes, meu norte enfeitado, minha lente de alcance, meu religar com o passado, “meus Querubins de procissão no interior”.
Eu também sou para eles, lamparinazinha no fruir das brechas, tangedoura de aflição localizável. Quando me evocam largo tudo e parto no clarinar dos galos. Atesto minha presença com abraços bem apertados, olhos nos olhos, palavreado de adjutório e silêncio. - Tem vez que só a mudez interior alivia a carga.-  Cada um sabe o que o outro está vivendo e, vivemos felizes na meiga oferenda da simplicidade, lonjura e respeito. Não existe tristeza repisada nem segredos. Eles sabem que a qualquer momento no oitão de seus cansaços, ‘se quiser, podem fazer um travesseiro dos meus braços’.