A
vizinha que vive brigando com o namorado briga de novo e por telefone.
Alta madrugada começa o tirinete de gritos. Passa mal dos nervos a
criatura e maldiz o cachorro, chora, quebra o porta-retratos, rasga a
sacola que ele deixou pendurada na alça do portão. Funga com o nariz
mais choroso do mundo e disseca palavrões com os espasmos de cobra bem
ferida. Levanto discreta, em silêncio de morte, pego
um copo d’água. A luz da lua clareia toda a cozinha. Olho para os fios
que perpassam nossas casas as andorinhas e pardais já não pousam, as
gotas da calha há tempo cessaram e nenhum gato habita os muros. Todos
dormem. O coração da vizinha continua sangrando na estampa floral de um
agonioso sábado. Coisa de seiscentos Lúcifer, coisas de quem nunca leu o
salmo vinte e três nem recebeu um saquinho de pão cheio de pirulitos ou
tomou partido da floração de alegria dos ipês amarelíssimos. Coisa de
quem pensa que o amor se molda com pedradas, de gente que dispensa o
convite da cachoeira e continua perdendo tempo com a bica rala.
Sigamos confiantes para uma semana boa.
Que o cheiro dos Ventos Antigos
nos guarde e Deus nos renove com belas surpresas.
Beijos em TODOS.
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
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