segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A vizinha que vive brigando com o namorado briga de novo e por telefone. Alta madrugada começa o tirinete de gritos. Passa mal dos nervos a criatura e maldiz o cachorro, chora, quebra o porta-retratos, rasga a sacola que ele deixou pendurada na alça do portão. Funga com o nariz mais choroso do mundo e disseca palavrões com os espasmos de cobra bem ferida. Levanto discreta, em silêncio de morte, pego um copo d’água. A luz da lua clareia toda a cozinha. Olho para os fios que perpassam nossas casas as andorinhas e pardais já não pousam, as gotas da calha há tempo cessaram e nenhum gato habita os muros. Todos dormem. O coração da vizinha continua sangrando na estampa floral de um agonioso sábado. Coisa de seiscentos Lúcifer, coisas de quem nunca leu o salmo vinte e três nem recebeu um saquinho de pão cheio de pirulitos ou tomou partido da floração de alegria dos ipês amarelíssimos. Coisa de quem pensa que o amor se molda com pedradas, de gente que dispensa o convite da cachoeira e continua perdendo tempo com a bica rala.
Sigamos confiantes para uma semana boa. 

Que o cheiro dos Ventos Antigos nos guarde e Deus nos renove com belas surpresas. 
Beijos em TODOS.

Nenhum comentário: