Raposas, bolor e ácaro
O mar de Mariana enlameou meus pássaros e o rumor de meus querubins.
Fez-me descer troncha pela ribanceira chorando amargosa com olhos de fuligem, mofo, bolor e ácaro.
Retorcida, sem planos e saudosa pendi feito flor de mostarda bem ferida.
Não alcancei os armários guardiões de sol, os bolinhos de chuva, as lamparinas com azeite nem as moças limpas.
Avistei as raposas que se disfarçam de pombas e as covas fundas do destrutivismo que as mesmas raposas cavaram.
Avistei também o ladino, o pulha e o falsário hediondando ambições douradas enquanto o xaxim agonizando ajoelhado requeria a água que lhe foi roubada.
Nenhum fio de vida brota. Nenhum grilo invisível canta. Nenhuma garça ou esperança alvora.
Senhor! Não nos abandone às garras do maligno! - Imploro igualmente Jeremias lamentoso.
O pouco que ainda resta passará por luas muito impossíveis. Cratera exposta, ferida aberta. Cantiga de morte assobiando sonho que ninguém gosta.
Dor circundada no eito como escreveu Frantz Fanon: “Todos condenados”.
Terra tentando aprender com as nuvens a arte de se transformar.
Mas nem nuvem há mais, Mariana! E agora?
Meu coração permanece supuroso, espetado numa estaca de sal.
Corro a vista em Lucas: “É perseverando que vocês obterão vida”.
Crucífera, na amareleza dura de insalubres poças persevero. Zenilda Lua