Deixei de arrumar a casa nos dias de Segunda-Feira. Não sofro mais com o desalinho da mesa; silenciosa, amável e repleta de livros. Artigos, moedas, óculos, fone de ouvido, chave, pilha recarregável, fita –de- cetim- vermelha, pote de plástico com bolo de fubá que a sogra fez, lápis preto, dicionário, brilho labial e, cesta de frutas. Observo tudo com zelo de oratório. Já não adoeço mais. Uma safra de serenidade aliviou-me as palpitações ofegantes que no apoucar da outrora me cabiam. CadaCoisaEmseuLugar! Pelo-amor-de-deus-misericórdioso! Eu dizia em meio a ataques de cólera, desespero e inquietações cardíacas.
Uma perturbação líquida inundava meu ser. Bastava ver a esponja de lavar louça fora do porta-sabão.
Guardava com afinco a angústia dos incontestes ao ver uma folhinha de samambaia espiralada ao chão da garagem. Sentia o peso dos que não chegam a tempo. Morrinhenta, cheia de retórica e pecado, mais parecia uma topografia opressiva que, geme baixinho só de ver um copo em alhures.
Aí meus fuxicos de terreiro, minha rédea de cerzir coração desafamado. Tagarelice de comadre e segredos de mato escuro valhei-me!
Jurei que melhoraria e, deixei-me ser regida e confortada pela ciência de que, nem sempre posso ser de esmero e cuidados, de bonança e razão, de trabalho e eficácia.
Sou é de monturo, loucuras, ócio e mal cheiroso galho. Consumista sem excesso, mas, sou. Cruel, avarenta, bicho de cafundó, mafueira, baba-de-boi porejando cercas.
Fiz um pacto com a mesa. Ao menos nas Segundas-Feiras deixamos que fique assim; circundada pelos bastidores épicos da fragrância andeja de Sábado e Domingo. Incitada pela desordem que burila a lucidez, o soletrar dos anjos, a vasilha de cocada, a flor cor de goiaba que, nasceu na beiradinha do poço, o som do Vinicius vindo de um canto da sala: Na Tonga da Mironga do Kabuletê...e assim por diante.
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