segunda-feira, 31 de março de 2008

Mistérios do ócio



... Ela herdou todas as posses do seu pai senhor de engenho, regime feudal. Não lhe caía mal aquele olhar de febre, meio mel queimado embora, o hálito amargo e o som de inferno executado pela sua voz, ardia por mil labaredas nos ouvidos das empregadas.
Numa noite de sol, depois do perfume francês e das meias de seda calçadas, ela não conseguiu entender aquele infinito silêncio ao redor da xícara de café amargo. Como tinha urgência bebeu-a de um só trago, (sem ter tempo sequer de acender aquele que seria seu último cigarro). Adormeceu suavemente sem cicatriz de fada malvada, sem pretensão de céu ou inverno, de orquídeas ou vento de hinos poéticos ou homilia censurada...
Voou baixinho feito nuvem sem resposta, feito praça morta que não consegue ser fértil, tão pouco uma boa guardadora de segredos.

Zenilda Lua

Promessa de Sábado

Meus querubins chegarão sem alarde,
pé ante pé feito sono no meio da tarde.
Tocarão flauta doce sem desafinar.
Brincarão de roda em tua volta.
(Pois há muito, és minha preferida)
E se você deixar
esculpirão flores nos teus cabelos de seda.
Ficarão de plantão até seu coração se harmonizar.
Até que seu tempo seja pleno
de festas diversas, colheita e fartura.
Até que o pólen se dissolva morno,
meigo e sem qualquer rasura.
Até que chegue de novo outras férias,
outras feiras de poema,
outros sonhos, outros ventos,
Outras flô e candura...
Tudo assim:
leve, fértil e doce...
Igualzinho chá de hortelã
com biscoito molinho – In natura.

Zenilda Lua


Alfenim


FRAGMENTOS BRANCOS II

Apresento-lhes uma das minhas Musas Literárias:

lava os pratos
tendo por patrão
os ponteiros do relógio
essa mulher pêndulo de nervos
sobrevive no limite
entre a santidade e a blasfêmia

(Josefina Neves Mello. Mulheres de São José: outros poemas, 1996, p. 63)

Para Fabi Baldi




Quimera 77




sábado, 29 de março de 2008


“Todas as cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem ridículas...”
... Por isso separei ambigüidades e devolvi ao poço.
Chegou a véspera de não mais partir
Agora posso dizer-lhe, venha!
(no sentido concreto do corpo)
suor e sândalo
canela, mel e
aquele gosto de sal escorrendo nos olhos...
Pode vir !
Com suas malas de notícia, ócio, luta, delícia,
insônia, ferramentas, comédia, literatura
e pensamentos romanos:
Sêneca , Cícero, Marco Aurélio...
...Sua sacola de planos, bom humor
e todas as MANIAS VEGETARIANAS
Venha!
Com essência de Hércules alargando fronteiras
Me enchendo de graça
mostrando que o tempo dizimou cautela
e nesses dias insanos de febre alta
“ ...É inútil dormir, a dor não passa”.
Zenilda Lua

Presença de sol em plena noite





sexta-feira, 28 de março de 2008