terça-feira, 8 de julho de 2014


Quando ele descobriu meu sobrenome, minha inclinação lunática e minha natureza desprovida de milagres deu-me um codinome e tratou de fazer uma trilha sonora para nossa história. Escolheu músicas com letras que exaltava a lua e gravou em fitinhas cassete que chegavam pelo correio nos embrulhos mais bem preparados que já recebi.
“Menina do anel de lua e estrela”
... “mente quem diz que a lua é velha”.
... “A Lua e eu”... E assim foi e assim somos.
Deus bem sabia o que estava fazendo. Todo aquele avolumar de amor me pôs no caminho certo. 
Casamo-nos quando vesprava o outono de noventa e quatro. Na fase minguante da lua. Sem chá de cozinha, sem pompa e sem padre. Na simpleza dos sonhos e abundância de bênçãos.
Na parede da sala com o esmero dos que nunca se aborrecem ele desenhou uma “Quarto Crescente” que o Carlinhos Tomé pintou de preto brilhante e bem vivo. Vinte anos passaram-se. Vendemos a casa e adquirimos outra. 
Desobedecendo aos cuidados e orientações da equipe médica esta semana ele deixou o repouso. Atravessou a avenida com um pendrive no bolso e alguns trocados.
Encomendou CAPRICHO ao mocinho da gráfica que de tardezinha entregou a arte pronta.
Fomos sorridentes para o novo lar. Antes do sol apoentar-se todo chegamos ao destino.
Subi com as caixas de livros, sacolas de miudeza e panos de chão (ainda não mudamos), quando percebi ele todo cuidativo e concentrado adesivando a parede pintada de verde clarinho disparei a foto.
Sou tão chegada às lágrimas que ao ver esta cena tremulei a voz, mas recuperei em seguida e suave feito imperatriz próspera declarei: 
Amor de minha vida, uma vez o sonho encheu minha noite, vazou para meu dia, represou minha vida e é dele que vivo... “por onde for quero ser seu par”.






15-05-2014.

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