Hoje eu escrevo porque
sou uma desesperada que acaricia as imposturas de certas vivências indigestas.
Escrevo porque uma trêmula tristeza me descompensa, aborta-me em choradeira.
Escrevo porque a praça
está cheia de lixo outra vez. Porque a mãe grávida do TERCEIRO grita para o SEGUNDO 'calar-a-boca' senão lhe
quebra os dentes.
Escrevo porque o consumo
de objetos materiais continua sendo uma exigência para a Integração Social.
Escrevo porque dói, toda
essa falta de poesia!
Porque em alguns
momentos, sinto como se não existisse
mais bailes, saraus antigos, retratos na parede, assobio do pai carinhoso que segura firme na
mãozinha do filho pequeno.
Sinto como se houvesse
sido extintas todas as cantigas das lavadeiras com seu cheiro gostoso de água e
sabão-de-coco, rodilhas de pano, trouxa de roupa e pedras de anil guardadas na
touceirinha de capim gordura.
Parece não existir mais a casa que cheira a
rosas de terreiro nem as quermesses de maio. Tá tudo tão seco, tão frio, tão
pântano sem acorde que eu sinto-me como se fosse uma vasilha velha de olhar caído, acocorada
no pé do borralho preferindo tecer
esteiras com cipó fino tirado do brejo, a ser gente e, ter essa voz de sino grande
que não serve para nada.
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