segunda-feira, 1 de abril de 2013




Hoje eu escrevo porque sou uma desesperada que acaricia as imposturas de certas vivências indigestas. Escrevo porque uma trêmula tristeza me descompensa, aborta-me em choradeira.
Escrevo porque a praça está cheia de lixo outra vez. Porque a mãe grávida do TERCEIRO  grita para o SEGUNDO 'calar-a-boca' senão lhe quebra os dentes.
Escrevo porque o consumo de objetos materiais continua sendo uma exigência para a Integração Social.
Escrevo porque dói, toda essa falta de poesia!
Porque em alguns momentos,  sinto como se não existisse mais bailes,  saraus antigos,  retratos na parede,  assobio do pai carinhoso que segura firme na mãozinha do filho pequeno.
Sinto como se houvesse sido extintas todas as cantigas das lavadeiras com seu cheiro gostoso de água e sabão-de-coco, rodilhas de pano, trouxa de roupa e pedras de anil guardadas na touceirinha de capim gordura.
 Parece não existir mais a casa que cheira a rosas de terreiro nem as quermesses de maio. Tá tudo tão seco, tão frio, tão pântano sem acorde que eu sinto-me como se fosse  uma vasilha velha de olhar caído, acocorada no pé do borralho  preferindo tecer esteiras com cipó fino tirado do brejo, a ser gente e, ter essa voz de sino grande que não serve para nada.

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