domingo, 14 de abril de 2013




Eu penaria sem vocês.
Eu penaria feito as ramas do pé de cipó na seca. Penaria como pena cigana velha sem voz, com roupas precárias e sem cor, procurando atávica em cada mão inválida o semblante de vocês.
Penaria feito açucenas de papel, amores-perfeitos e rosinhas discretas que enfeitam a capela solitária da estradinha brejeira e nunca ninguém as percebe.
Penaria em cada por-de-sol, em cada visita ao banhado, quermesse, festa-junina, em cada passeio, em toda poesia que eu lesse.
Penaria no esmorecer das manhãs de outono e na amareleza  das luas cheias.
Eu penaria só de ver a tigela com doce de goiaba e rapadurinha de coco Mirian Cris.
Eu penaria infeliz e morta pela ausência de vocês. Porque vocês me dão a clareza das luzes eternas, a simpleza de um céu que não tem tamanho, o esplendor dos cânticos bíblicos, os valores estocados na matéria da alma.
Vocês me dão o barulhinho dos passos de um Cristo lírico correndo feliz num prado de violetas.
Eu penaria sem vocês e choraria de saudade todas as vezes que ouvisse as cantigas de nossa tarde:
"Meninos vem brincar no mar! Oh mar vem lavar pés de menino"...

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