Eu penaria sem vocês.
Eu penaria feito as ramas do pé de cipó na seca. Penaria
como pena cigana velha sem voz, com roupas precárias e sem cor, procurando
atávica em cada mão inválida o semblante de vocês.
Penaria feito açucenas de papel, amores-perfeitos e rosinhas
discretas que enfeitam a capela solitária da estradinha brejeira e nunca
ninguém as percebe.
Penaria em cada por-de-sol, em cada visita ao banhado,
quermesse, festa-junina, em cada passeio, em toda poesia que eu lesse.
Penaria no esmorecer das manhãs de outono e na
amareleza das luas cheias.
Eu penaria só de ver a tigela com doce de goiaba e
rapadurinha de coco Mirian Cris.
Eu penaria infeliz e morta pela ausência de vocês. Porque
vocês me dão a clareza das luzes eternas, a simpleza de um céu que não tem
tamanho, o esplendor dos cânticos bíblicos, os valores estocados na matéria da
alma.
Vocês me dão o barulhinho dos passos de um Cristo lírico
correndo feliz num prado de violetas.
Eu penaria sem vocês e choraria de saudade todas as vezes que ouvisse as cantigas de nossa tarde:
"Meninos vem brincar no mar! Oh mar vem lavar pés de menino"...
"Meninos vem brincar no mar! Oh mar vem lavar pés de menino"...
Nenhum comentário:
Postar um comentário