domingo, 17 de fevereiro de 2013



Sofro de ouvir funk no volume máximo.
Fecho todas as portas e cortinas. Reforço à soleira da cozinha com tapete de cordas; não adianta. O som do purgatório (só pode ser esse) entra. Entra e me desatina. Entra pelos vãos da calha, pela frouxura do oitão, pelas veias da laje, pelo respiro das ripas e telhas. Entra pelo silêncio da horta, pelo beiral do vidro que protege a janela.
Não consigo ler, ver televisão, adiantar pesquisas. Não consigo nem conversar com a filha.
A tortura advinda dos quintais vizinhos invade o entorno, reforçando sintomas da decadência de uma parte da humanidade.
Para aliviar a exaustão auditiva só mesmo pegando a estradinha do Bosque, parando na divisa das pedras, afastando os gravetos, encostando-me no tronco do flamboyanzeiro e lendo Wandecy Medeiros: “Seguimos a canção” e a canção nos dominou. A canção nos obrigou a comprar, a gritar, a dançar, a pular, a rezar, latir, miar, grasnar, urrar e rinchar.
De repente o mundo se afrouxou e tudo virou vaselina. [*]

* Wandecy Medeiros é jornalista e escritor paraibano.



Um comentário:

Wandecy Medeiros disse...

Zenilda Lua, sempre nos encantando com o seu talento.