domingo, 24 de fevereiro de 2013
Coluna Crônica Jornal de Caçapava: A Moça das Saias Coloridas.
Zenilda
Lua nasceu em Patos, na Paraíba, em nordestinos vinte e três de janeiro
de 1971. Nasceu para a poesia, mas nunca fugiu de suas outras sinas,
nenhuma delas. Mulher guerreira e batalhadora sabe viver a fina flor do
que nos faz mulheres, secretamente entranhado nas linhas de sua escrita.
Há que ler para entender.
Em 1992, veio para São José dos
Campos, veio para o amor, para o trabalho, para os amigos, para tornar o
cinza mais colorido e mais vibrante como suas saias rodadas: elegantes e
finas como sua arte. Veio ser a poesia que sempre foi. Quando nosso
encontro extrapolou as linhas, tive a satisfação de participar de dias
mais amenos, manhãs mais domésticas e fins de tarde pesquisados em
nossos sonhos de trabalho revigorante, de descobertas literárias que não
escapem ao humano, pois nós gostamos de gente. E, é difícil gostar de
gente, é trabalhoso aprender a respeitar a diversidade, é custoso ver-se
no outro, mas Zenilda Lua o faz tão tranquilamente, tão poeticamente,
que às vezes fica difícil saber se algum dia, sequer, ela tenha olhado
para a vida, tenha respirado o mundo sem o oxigênio lírico. Será?
Sim, nós temos A Moça das Saias
Coloridas e já não é possível imaginar essas ruas joseenses sem a cor de
suas saias. Já não podemos supor as praças sem seus saraus, os
encontros sem seus abraços, sem seus acalantos, sem sua disposição
constante.
Nesta cidade tão distinta, tão
agigantando-se, uma migrante nordestina nos faz mais próximos, mais
amigos, mais humildes em nossas angústias, mais fortalecidos em nossos
sonhos. Nesta cidade que ‘anseiam’ tão tecnológica, ela, poetisa, nos
oferece uma inspiração bucólica, cheia de perfumes, sons e agrados
sertanejos. Tudo combina tão bem com o asfalto histórico simbólico que
tão poucos... Deixemos...
Há muito tempo venho tentando lapidar
letras à altura da generosidade poética e humana de Zenilda Lua, não
sei fazê-lo a contento; não me atrevo à crítica, não quis desistir;
resolvi apenas prosear com sua poesia, reli, reli, reli. Na
incompetência de lhe dizer o quanto significa para todos nós, recorro à
suas letras, que jeito melhor?
Quimera 77
“Destilada a seiva
e a memória latejando o peito:
Pai, Bênção!
Pai, reza comigo!
Pai, apaga a luz!
E aquela voz de sítio molhado
chegava crua num assobio singelo:
_ Tô indo, Fia!”
Zenilda Lua é autora de Alfazema (2007) e Aparador de Quimeras ( 2011).
Sônia Gabriel
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