Depois que o câncer passou pela minha vida validei alguns
conceitos. Propus-me a não sofrer por miudezas e a perseverar mais na clareza
que borda os encantos sem me prender na amargura que tece as aldeias vaidosas,
mofinas, bajulentas e carentes de
certezas.
Decidi buscar mais. Buscar sem segredo ou culpa,
os bens invisíveis. Perdi o medo de andar sozinha nas noites de claridade
baixa. Evitei as criaturas que preferem os queixumes, os adornos do ego, as
vitórias efêmeras.
Resolvi não maldizer os acontecimentos inúteis, as
abordagens vãs, os atos ilícitos. Os políticos corruptos.
A vivência oncológica me fez perceber a maravilhosa graça
que é abrir os olhos pela manhã e poder ir até o banheiro. Segurar um copo com
água no meio da tarde ou beijar a filha ao anoitecer.
Sou grata a Deus por tudo. Aprendi que o padecer também é
proveitoso para minha alma e decidi não reclamar de nada.
Mas, algumas notícias chegadas às últimas semanas
trouxeram-me aflição que desconcertou-me
em estágio elevado. Professou a crença aos ídolos que não escutam, não enxergam
e não falam, desiluminou a inteligência, nos levou a margem.
Valho-me de Frei Betto para dizer que esta notícia lembra “os que cimentam árvores, fazem pontaria em
orquídea, pintam o verde de marrom e
jamais perde o tempo com idoso ou criança”.
Depois de oito anos, Festival da Mantiqueira é cancelado
http://cultura.estadao.com.br/blogs/babel/depois-de-oito-anos-festival-da-mantiqueira-e-cancelado/