Leio
para a Brisa desde quando ela ainda era uma centelhinha de luz dentro
de mim. Continua o hábito. Foi por isso que ela acertou de pronto uma
questão escolar importante referida ao conto de Guimarães Rosa, A
terceira margem do rio.
Este ano ela conclui o ensino médio e se
forma também como técnica em Meio Ambiente. Na terça-feira (ontem)
apresentou o TCC e durante as semanas que antecedeu a apresentação vivemos dias de expectativa e concentração.
Leituras diárias, treinos e latejos. Filha de peixe é cuidadosa em
excesso. O pai era assim. Tudo tinha que estar alinhado, formatado,
centralizado, brilhando.
Para minimizar a ansiedade e pegar rumo de
desconcentração traquejava alternativas diversas, lia os salmistas,
provérbios e não poderia faltar poesia, contos e crônicas escritos por
amigos.
Na véspera da terça foi a vez de Wandecy Medeiros.
Peguei o livro A verdade e outras mentiras. abri numa crônica e li em
voz alta. Wandecy fala dos ricos parasitas, estúpidos e inúteis que
existe na nossa cidade ( Patos-PB). Ele diz: “ Milionários excêntricos
não existem na minha cidade. Só ricos. E os ricos não são inteligentes
nem são ousados. São ignorantes. Nenhum vai deixar grande exemplo de
alma ou grande atitude de espírito. Vão apenas comer churrasco a vida
toda e vão deixar uma prole que continuará mantendo seus profundos
ensinamentos de inutilidades. Seus descendentes serão cheios de dinheiro
e inúteis como aquela cambada de desocupados do “Palhaço” de
Buckingham”.
Wandecy perpassa o assunto Inglês validando que a terra da rainha só produziu duas coisas boas; o amigo Pastor John Philip Medcraft e os Beatles.
Essa parte fez a Brisa sorrir com folga. Riso frouxo de quem se anima.
Apreciadora dos Beatles desde criancinha, contava as horas para ouvir
Paul McCartney que cantou ontem a noite em São Paulo após apresentação do TCC ela arrumou a mochila e com destino à Sampa partiu com Caarlos Rosa, Lucilene Dias, Lon Amorim e outros companheiros de sonoridade.
Voltaremos à leitura em breve. Um dia ainda abraçaremos o Pastor John!
Viva as amizades e as riquezas úteis.
Boa semana a Todos. Saúde e paz sem desconserto.
quarta-feira, 26 de novembro de 2014
domingo, 9 de novembro de 2014
Desde o primeiro anoitecer que partilhamos juntos recebi com estranheza aquela mania de vick vaporub
Ele adotava a latinha de unguento com a tradição de um religioso. Fidelidade integrada. Submissão de um dependente contrito.
A vick era como um sol para suas noites. Seu projeto de salvação e sonhos, seu romance premiado com poesia e crônica.
Ele untava as pontas dos dedos com a pomada temática e besuntava o pescoço, o peito, os lóbulos e o tecido adiposo do nariz semi- adunco. Eu mapeava os detalhes do seu hábito noturno sem achar meios para erradicá-lo.
Por quase quinze anos dormi com um poeta que recendia o cheiro de um campo de hortelã na florada mais alta.
Tentava fazer negociações estratégicas, brincava de esquecer onde havia guardado a lata. Ele sempre tinha uma de reserva e eu ficava em desvantagem.
A vick era o GPS que o ajudava a encontrar o caminho do sono, os planos de amor, as cuias de mel, a providência das palavras.
Mas algo inédito aconteceu na véspera de um feriado; sem querer ele acariciou meu olho esquerdo com os dedos lambrecados da referida pomada vickosa.
Foi um dos momentos mais agoniosos da minha estada com ele. O ardor valia por mil cebolas descascadas escorrendo seu leite em conta gotinha sobre minha íris amarelada. Meu olho virou uma bolota carmesim. Um colorau na brasa.
Ele ficou desesperado. Providenciou água, assoprou com bem força, buscou toalha que molhava na baciinha na tentativa de aliviar o incomodo e nada!
Implorou desculpas, fez eterna jura de “foi-sem-querer” e eu sabia que não foi de maldade. Ele não pertencia à classe dos que torturam.
Daquele momento em diante meu cheiro ganhou exclusividade nas noites dele. Aposentou a vick vaporub. Abandonou a contravenção. Reservou a melhor gaveta do armário para acomodá-la.
Algumas noites ainda o flagrei abrindo a latinha e aspirando a tampa.
Sem agudez do remorso eu insistia para que usasse a bendita unção medicamentosa, ele dizia não.
Tinha deixado de precisar. Passou a usar só nos dias de resfriado de quando em quando bem de lonjão e na época que o nariz entupia ou garganta ficava na inflamação.
Com o advento do câncer no pulmão e o desconforto respiratório acelerado. Comprei uma latinha de vick e o presenteei com boa intenção. Ele sorriu carinhoso e agradecido lembrou de um poema que fez noutra ocasião. Relemos o poema juntos, depois demos mais risadas.
Minha memória eliminou a precisão das datas, mas cuidou do essencial. Imortalizei o assunto junto com os amigos que conhecem essa história e o amor que nunca há de findar-se.
Ele adotava a latinha de unguento com a tradição de um religioso. Fidelidade integrada. Submissão de um dependente contrito.
A vick era como um sol para suas noites. Seu projeto de salvação e sonhos, seu romance premiado com poesia e crônica.
Ele untava as pontas dos dedos com a pomada temática e besuntava o pescoço, o peito, os lóbulos e o tecido adiposo do nariz semi- adunco. Eu mapeava os detalhes do seu hábito noturno sem achar meios para erradicá-lo.
Por quase quinze anos dormi com um poeta que recendia o cheiro de um campo de hortelã na florada mais alta.
Tentava fazer negociações estratégicas, brincava de esquecer onde havia guardado a lata. Ele sempre tinha uma de reserva e eu ficava em desvantagem.
A vick era o GPS que o ajudava a encontrar o caminho do sono, os planos de amor, as cuias de mel, a providência das palavras.
Mas algo inédito aconteceu na véspera de um feriado; sem querer ele acariciou meu olho esquerdo com os dedos lambrecados da referida pomada vickosa.
Foi um dos momentos mais agoniosos da minha estada com ele. O ardor valia por mil cebolas descascadas escorrendo seu leite em conta gotinha sobre minha íris amarelada. Meu olho virou uma bolota carmesim. Um colorau na brasa.
Ele ficou desesperado. Providenciou água, assoprou com bem força, buscou toalha que molhava na baciinha na tentativa de aliviar o incomodo e nada!
Implorou desculpas, fez eterna jura de “foi-sem-querer” e eu sabia que não foi de maldade. Ele não pertencia à classe dos que torturam.
Daquele momento em diante meu cheiro ganhou exclusividade nas noites dele. Aposentou a vick vaporub. Abandonou a contravenção. Reservou a melhor gaveta do armário para acomodá-la.
Algumas noites ainda o flagrei abrindo a latinha e aspirando a tampa.
Sem agudez do remorso eu insistia para que usasse a bendita unção medicamentosa, ele dizia não.
Tinha deixado de precisar. Passou a usar só nos dias de resfriado de quando em quando bem de lonjão e na época que o nariz entupia ou garganta ficava na inflamação.
Com o advento do câncer no pulmão e o desconforto respiratório acelerado. Comprei uma latinha de vick e o presenteei com boa intenção. Ele sorriu carinhoso e agradecido lembrou de um poema que fez noutra ocasião. Relemos o poema juntos, depois demos mais risadas.
Minha memória eliminou a precisão das datas, mas cuidou do essencial. Imortalizei o assunto junto com os amigos que conhecem essa história e o amor que nunca há de findar-se.
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