domingo, 29 de junho de 2008

Ela está viva João...


(tanto quanto as curvas neblinosas de São Francisco Xavier)

... E arrasta os chinelos pelo meio da casa
atende o telefone majestosa
vai à janela espiar a chuva serenar terreiro
ainda bebe chá na mesma xícara de asa quebrada
molha a horta
passa brilhantina nos cabelos e não faz sigilo:
É doida por uma missa.
guarda o terço na cabeceira da cama onde dormita o ofício de Nossa Senhora
É uma mulher de cheiros, de tempero, poesia e entrudo...
Tem toalha de retalho estendida sobre a mesa
e no peito uma fogueira acesa em forma de Luzia e borboleta.

(Zenilda Lua)



sábado, 7 de junho de 2008

Mal de tempo II


Quando setembro chegar

...Não existirá neurose em nenhum turno.
As quaresmeiras estarão de plantão
com seus mantos flamboyant apaixonado
e os ipês também se vestirão de roxo-clarinho
ou amarelo-ouro
(perfumadíssimos)
Igualmente lençol de comadre zelosa.
O pintassilgo virá às janelas
com seu trinar laranjado
beliscar os fiapos de sonhos que esquecemos pelo caminho...
O som doce da flauta também avisará que a primavera
caramela as cores
e as almas ficam “quase” todas LUA de coração crescente.
Cachos de amor se enozam pelas mãos e cabelos
e todos os pedidos ganharão cheiro...
Ninguém manda ou aborrece
A aridez se esvai.
A voz mais austera é a das bromélias
Os jardins ganham dedos e alinhavam poesia concreta.

Quando Setembro chegar tudo será pleno.
Por que Deus não irá se distrair por nada.
Vai andejar sereno
e enquanto beberica seu vinho sacro
nos acenará com beijos
piscará sorridente
com aquele olhar casto de aquarela azulejada que só ELE tem.

(Zenilda Lua)