sábado, 23 de dezembro de 2017

A imagem pode conter: pássaro, céu e atividades ao ar livreBeijei-lhe os olhos com o pulsar das tremuras cardíacas e os desconcertos de uma ala hospitalar que amanhecia.
Não revidou. Não disse uma palavra sequer.
Conhecia os procedimentos dos cortes incisivos e a ação anestésica da poesia que cicatriza tudo.
Eternizou-se.
Levando o bordado invisível dos meus lábios bem pregados em suas lindas pálpebras.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017



Cingistes o tempo
de lirismo em plena tarde
e dos meu olhos inebriados 
escorreu lume...
Quanto mais vejo e admiro tua arte,
mais extasio e entonteço
sem ciúme.

quarta-feira, 29 de novembro de 2017


Vazada por alta luz a tarde se entrega aos meus olhos.
A Lagoa abre os braços pra me guardar de novo.
Sento na sua primeira margem imitando o Roberto.
...”e toda vou me entregar. 
Começo, meio e fim... e a minha cuca ruim”.
Um tucano voa perto, uma garça desfila silenciosamente e, os "quero-quero" sempre arengueiros, implicam com minha presença.
Mas é o Belchior que me desperta:

“ É hora do almoço...
Ei, moço!"

...volto correndo. Acabou o tempo!

domingo, 29 de outubro de 2017





Tem gravura de sol
de estrela do mar
mania de espalhar modos
que incidem mistérios...
Eu fico escutando um violino chorando longe
e penso na outra claridade que avança
azulando até as cercas de arame farpado

numa doçura santíssima!

Foto de Maurici Dasmaceno




Marcou-me com ponto cruz
flores de maio
e auroras temporã
os topázios
o crepúsculo
os livros de Manoel de Barros
as modas de viola
a bala de hortelã...
permanecem intactos
no alfazemar dos acordes mais dócil.
Basta descuidar um tiquinho de nada
teu semblante me pega, me pega de novo
mesmo quando há visita


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terça-feira, 24 de outubro de 2017


Das gavetas
ainda escapam lembranças
cheias de esperteza sonora
florata 

com leve cheiro de vick e própolis
malemolência fatiada no frasco do tempo
apropriadas e faceiras
como cantiga de vento
vão-e-voltam...


sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Algumas manhãs chegam conduzidas por amargores desesperantes.
Tão altos que emperram a passagem do verde mais calmo.
É óbito, é pânico, é câncer, é falta de emprego, de óleo e cebola para dourar o arroz, é excesso de preconceito, de vaidade e de ruindade mesmo!
O fogo do desassossego dos inocentes também ardem nos olhos da gente. As barbáries nos cortam a fala, comprimem o peito, ressecam os planos.
“Tende bom ânimo”.
Eu tenho, Jesus! Mas algum estoque de força parece envelhecida demais. Aloja-se na carne o desatino do amor precário, da confusão, da cegueira.
O peso dos acontecimentos falta pouco enfartar a veia por onde corre os sonhos.
Chega a hora do almoço resolvo bordejar no meu local de trabalho, andar pelo verde que ainda nos resta.
Primeira parada; com a equipe de técnicos e alunos da escolinha de futebol, plantamos um pé de abacateiro.
Segunda parada; um respiro debaixo do bambuzal onde o casal de quero-quero me olham com desconfiança.
Terceira parada; visita ao velho e tão amado pé de pau-brasil. Debaixo de sua sombra generosa e farta, sentei-me emocionada e desobrigada. Coisa mais linda alarmando-se inteiro!
Havia três anos que ele fazia greve de flor. Ficou amuado, emperrado feito prego que não serve pra nada. Este ano se capacitou no mais alto grau da primavera. Desandou-se à florada. Está impossível! Seu perfume estende-se pela avenida dos bancos, corta a praça, entontece o pica-pau, desnorteia as abelhas mais sãs. Entusiasma os grilos obtusos e desvanecidos para o amor.
Tirei várias fotos com o celular capengando com bateria sempre no trisquinho final.
Sequei os olhos na barra da blusa.
Minha alma teima em sofrer de esperança.
“No mundo tereis aflição, mas anime-se”!
Nunca se mire no exemplo das mulheres de Atenas.
Ele venceu o mundo!

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Você pode até não se maravilhar.
Sua tristeza insiste e, em mim também se guarda.
Mas quando lembro que Ele acalmou a tempestade com um mandado.
Ressuscitou um morto com um chamado e, direcionou a história do mundo com a vida. 
As alegrias me voltam,
a esperança me cabe 
e as miudezas desconvidadas se vão com os voos das maritacas.
Não permitamos que nenhuma mazela se interponha, que nenhum preconceito nos oprima, que nenhum acontecimento nos afaste da única e soberana fonte!
Ótima semana.
Cheiros de bem e afagos lícitos!
Jesus nos guarde, alente, alivie, nos propague.

Foto linda de Paulo Baldi

terça-feira, 19 de setembro de 2017


Cura urgente para a síndrome do pânico.
Para o câncer e esquizofrenia.
Para a alienação, imprudência, fome e heresia.

Cura imediata para a depressão, alzheimer, corrupção, bulimia.
Para a preguiça, parasitismo, religiosidade e hipocrisia.
Cura-te!
Larga essa cegueira espiritual na beira do poço e caia na água que fornece vida. "Vida abundante".
O infiel é aquele que não faz.
Rompe o contrato com a verdade e
perde a ternura do seu foco.

segunda-feira, 24 de julho de 2017


Eu não conhecia direito, alguns cuidados 
tua luz, tua voz, sorriso e acolhida
eu andava no mundo dos sublimes
até que o medo invadiu a minha vida

veio a morte anulando todo o sonho
toda a sorte, certezas e projetos 
afogada por um mar de desenganos
recorri ao teu colo por decreto

Me tirastes da ala hospitalar 
com seu hálito soprou minhas feridas
aguou meu coraçao desidratrado 
aquietou as aflições desenvolvidas.

Devolveu-me o sonho e quietude
protegeu-me das tormentas e ventania
me cercou de propósito cuidativo,
de amigos, de esperança e dignia.

domingo, 9 de julho de 2017

Essa graça intensa, essa força viva
esse acalanto tão pleno e tão certo
livra-me de ser serva, imprópria e cativa
tudo que mais quero é lhe ter por perto.

Aviva meus sonhos, abre mais caminho
desemperra portas, me acolhe e me acalma
quando o salobro é mais que o carinho
chega e suaviza toda a minha alma.

Deixar-te não posso, não vejo motivo
não tenho outro jeito de ser consolada
amor abundante e nunca oblativo
unção que preciso pra ser melhorada.

domingo, 4 de junho de 2017


Aboliu minhas dívidas 
dilui os meus medos
visitou meus cômodos mais secretos
postergou meu degredo.
Escreveu no seu livro o meu nome completo
e calcou no meu cálice vinho demi-seco.
Não falou a palavra crepúsculo
não me deu um abraço nem sonhos de valsa
só confiou-me os topázios mais alto,
as perobas do campo
e doçuras perpétuas.
"As muitas águas não poderão apagar esse amor
nem os rios mais cheios irão afogá-lo"

segunda-feira, 20 de março de 2017


De ontem

Desce um eito de água franciscana
marejando-me os olhos e a alma
coração sertanejo não se acalma
faz barulho de boiada no meu peito
alegria transbordou não teve jeito
vejo a seca morrer bem afogada
só quem anda na estrada empoeirada
entende o porquê do meu deleito.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017




Era uma orquídeazinha quase morta
só com duas folhas, sem perfume
deprimida por sentir tanto ciúme
da begônia que namorava o crisântemo
a levei com cuidado para um canto
e a deixei no tronco do manacá
dei-lhe água encorajei-a a superar
toda dor que lhe despertava o pranto
hoje a Ciça me chamou sem muito espanto​
apontando o cacho cheio de flor...

Tudo aquilo que tratamos com amor
resplandece, fica cheio de encantos!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Chegaram timidamente.
Ao clarear da terça-feira algo diferente acontecia.
Um desconforto palpável abaixo das costas, descendo "pros quartos", como dizia minha avó.
Pensei que fosse devido aos baldes de água reutilizável que apanhei da máquina de lavar para limpar a frente da casa e a área de serviço no final de semana.
Lombalgia se trata com pouco esforço, pensei comigo e voltei ao serviço sem exagerar.
Não adiantou. Fisgadas de parto normal envergava as entrelinhas de minha alma.
Dor. Dor. Dor.
Brisa, minha filha, no alto de sua sabedoria juvenil pediu para fazer uma massagem e advertiu:
Isso não é lombargia, mãe! É rins inflamado!
Pois era mesmo. A nefrologista estava sem brecha na agenda para me atender este mês. Mas o Clínico atestou.
Buscopan composto e soro foi mesmo que licor e amendoim.
Lembrei-me da minha mãe com suas receitas caseiras e curativas.
Água com limão e lasquinhas de gengibre antecipa a eternidade, ela sempre nos receitou.
Enchi várias jarras e copos. Bebi sem moderação.
Ontem não conseguia caminhar. Hoje danço até um forró.
A sabedoria carece de dor para crescer.
Não deixem de consultar um médico.
Beijo'Z no coração, cheios de razão terapêutica.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

O trauma dos Aniversários

Na primeira infância não entendia aquele desafio ano após ano.
Intrigada de véspera apelava para os avós e tias mais próximas. Nunca alcançava a resposta certa. 
Minha mãe ficava bruta com minhas perguntas exaustivas.
Somente Tia Maria respondia-me num monólogo perpétuo:
- “Foi promessa”.
- “Promessa de quê, Tia? Promessa pra quê, Deus do Céu”?
Insistia com meus os olhos chorosos, sofrendo amiúde pelo cheiro da pólvora e o barulho dos fogos.
Nenhuma resposta vinha. Tia Maria silenciava sem dar brecha para eu esticar o assunto.
Todo dia Vinte e Três de Janeiro era a mesma coisa.
Meu pai soltava dúzias de foguetes enquanto minha mãe rezava um terço e cantava com toda a vizinhança uns hinos de agradecimento.
Eu morria de vergonha. Alheia e indisciplinada tentava fugir dos abraços. Depois do foguetório e da novena sempre era servido um café ou chá de canela com bolo de travessa, bolacha preta, doce de batata e broa de fubá.
Essa era a parte que eu mais gostava nos aniversários.
Com o agravamento do alcoolismo do meu pai e a depressão de minha mãe cessaram as rezas e o foguetório.
Nessa época eu tinha mais de dez anos e Jesus já era meu ajudador!
Trinta e sete anos passaram. Há duas semanas conversava com minha Tia Maria.
Refiz o interrogatório da infância e ela pacientemente contou-nos sobre a primeira filha de minha mãe. Eu não sou a primeira da prole. Nascera uma menininha antes de mim que veio a falecer num acidente depois do primeiro aniversário.
Com mais medo da morte assim que a mãe descobriu-se grávida, tratou logo de fazer um propósito muito comum na sua fé católica. Todo aniversário meu seria comemorado com reza e foguetório.
Deve ser por isso que evito sempre o alarde aniversariante.
Até hoje sofro com barulhos de fogos.
Sou grata a Deus pela vida. Sou até bem feliz. Tenho saúde, uma família linda e amigos amados.

Alegrei-me hoje por cada mensagem e desejos de bem.
Cada gesto de afeto e bondade.
Aprendi que todas as manhãs a gente aniversaria e quando se tem amigos por perto também se tem revoadas de anjos e ótimas garantias.
Sobre a dureza do tempo que nos envelhece, conservemos a poesia dos afetos sem anúncio de padecimento.
Para Todos, minha sincera gratidão e amorosidade.
Com beijoz sagrados serenados pelo melhor orvalho do Jardim de Deus.