sexta-feira, 24 de junho de 2016


Pastora de nuvens 
dei de convencer a neblina 
para dar vez ao sol...
E não é que ele brotou?
Amarelecido, esmorecendo, 
mas deu o ar da graça!
Hoje hei de dormir suave como pedra.

sexta-feira, 17 de junho de 2016






CORDEL DE SAUDADE
(Zenilda Lua)

Gente linda e importante
Povo do meu coração
Perdoem-me se eu chorar
Estou fraca na emoção
Tenho uma saudade aguda
Pregada no coração

Vocês conhecem a história
Da mocinha do sertão
Que recebeu uma carta
Toda cheia de intenção
Bordada com flor de giz
Que lhe despertou paixão

A paixão virou amor
E um casamento feliz
Vinte e dois anos juntinhos
Sem se afastar por um triz
Éramos amigos e parceiros
Folha, flor, caule e raiz

Tínhamos muito em comum
Sonho, amigos e poesia
Afeto, fé e diálogo
Salário, agrado e valia
Nunca nos desentendemos
Éramos som e harmonia

Eu gosto muito de incenso
Ele porém detestava
Amava ouvir música alta
Eu ia lá abaixava
Mas tudo acabava bem
Tempo ruim nunca se achava

Fazíamos encontros temáticos
Sarau, palestra e baião
Comidinha de terceira
Com as cores do sertão
Nossa casa era um canteiro
Cheio de animação

Com o advento do câncer
Minha alma empalideceu
Conhecia a gravidade
Do clarão que se acendeu
Começamos uma batalha
A filha, os médicos, ele e eu

Um ano buscando meios
De a doença combater
Ele todo positivo
Dizia: - eu vou  vencer!
Não reclamava de nada
Dava gosto de se ver.

Buscou na literatura
                                                           A base nutricional
Na alimentação saudável
Uma forma especial
Conseguiu satisfação
Pra conviver com o mal

Às vezes ele dizia:
"Lua, tu tens que comer!
Tá magra feito vareta
Desse jeito vais morrer
Sou eu que estou com câncer
Você pare de sofrer"!

Eu sofria porque via
A metástase se alastrar
Por órgãos bem importantes
Que é difícil de tratar
Contudo minha ternura
Nunca lhe deixei faltar.

No dia treze de junho
Justo no mês de São João
Precisou se internar
Em complexa situação
Os médicos já diziam
Não haver mais reversão

Foram mais de vinte dias
De torcida e de clamor
UTI e incerteza
Mal estar e pouca dor
Ele não ficou conosco
Assim quis Nosso Senhor

Fez uma passagem dócil
serena quase indolor
na véspera do aniversário
um boletim de ardor
cinco de Julho, à tarde
fiquei sem o meu amor.

No alumião da noite
na dormitação do dia
nas folhas que cobrem a rua
na cidade que esfria
Poeta, sua  saudade
é minha única garantia.


Zenilda Lua