domingo, 30 de março de 2014


Ela me chama de ‘gatíssima’ e protege-me com suas cantigas, orações, leituras midiáticas, pedidos e  risadas de engraçamento. Eu metade gente e metade taquara coberta de musgo retrançado sempre caio nas suas conversas e me desconcentro de tudo que é sério. Declamo poemas, releio os salmistas, invento paródias, cantoriazinha de renovo. Vamos à cozinha; preparo hambúrguer de soja ela corta abobrinha pro  refogo. O arroz fica pronto, a alface lavada, o amor e os sonhos se misturando num céu de futuro.  Vai chegar um dia que a ausência dela vai encaracolar ainda mais meus cabelos desgrenhados, vai fazer do meu coração mil cacimbas de saudades, vai cavar meus olhos até desbotarem com a água salobra que a chuva não faz.
Aí, aí meu coração de Jesus sempre louvado!

Mãe cativa, manquitola, querendo prender o tempo numa fragrância encantada, para quando precisar do invisível encontrá-lo na bordadura das coisas. Especialmente na flor que ela sempre carrega no cabelo e larga a pobrezinha adormecida sobre a banqueta do quarto ou no abajur da sala.