Ela me chama de ‘gatíssima’ e protege-me com suas cantigas, orações,
leituras midiáticas, pedidos e risadas de engraçamento. Eu metade gente e
metade taquara coberta de musgo retrançado sempre caio nas suas conversas e me
desconcentro de tudo que é sério. Declamo poemas, releio os salmistas, invento
paródias, cantoriazinha de renovo. Vamos à cozinha; preparo hambúrguer de soja ela
corta abobrinha pro refogo. O arroz fica pronto, a alface lavada, o amor
e os sonhos se misturando num céu de futuro. Vai chegar um dia que a
ausência dela vai encaracolar ainda mais meus cabelos desgrenhados, vai fazer
do meu coração mil cacimbas de saudades, vai cavar meus olhos até desbotarem
com a água salobra que a chuva não faz.
Aí, aí meu coração de Jesus sempre louvado!
Mãe cativa, manquitola, querendo
prender o tempo numa fragrância encantada, para quando precisar do invisível
encontrá-lo na bordadura das coisas. Especialmente na flor que ela sempre
carrega no cabelo e larga a pobrezinha adormecida sobre a banqueta do quarto ou
no abajur da sala.