“De
repente o riso fez-se pranto”.
Tínhamos em nossas vidas um câncer agressivo e letal.
Mesmo
cercados de cuidados médicos, informações, amigos e afetos não ouso dizer que foi fácil
os primeiros dias, porque sou sincera.
Chorei
como chora os sem pátria, os sem teto, os famintos e desesperançosos, os
apoucados na fé.
Chorei
ao acaso, no sereno, nos canteiros e praças, consultórios, igreja, nos plantões
e sinais fechados.
Chorei feito Samaritana com seu cântaro e sede na secura do poço.
Chorei feito Samaritana com seu cântaro e sede na secura do poço.
Até
que numa madrugadinha, sentada ao chão no quartinho do fundo, relendo os
salmistas, com uma caneca velha de chá frio na mão esquerda, vejo a Brisa entrar de mansinho,
sentar-se ao meu lado e falar bem baixo:
- Escrevi uma coisa e musiquei pro papai, quer ouvir?
Fui até seu quarto e escutei aquela vozinha açucarada cantando para si “o sol já vai nascer menina, é tempo de correr, sorria”.
Abracei-lhe, beijei-lhe os cabelos ondulados.
- Escrevi uma coisa e musiquei pro papai, quer ouvir?
Fui até seu quarto e escutei aquela vozinha açucarada cantando para si “o sol já vai nascer menina, é tempo de correr, sorria”.
Abracei-lhe, beijei-lhe os cabelos ondulados.
Cantei com ela. Prestando atenção na melodia, no papel
rabiscado com a letra da canção, nas suas mãozinhas finas conduzindo o violão
que eu e o pai lhe demos de presente quando ainda era um tiquinho de gente.
Entendi os desígnios de Deus na nossa história e tomei como graça todo o acontecido.
Entendi os desígnios de Deus na nossa história e tomei como graça todo o acontecido.
Na
manhã seguinte o Poeta juntou-se a nós numa cantar feliz e emocionado.
Estávamos repletos. Deus nos multiplicava, “nos conduzia e nos protegia com suas mãos fortes”.
Estávamos repletos. Deus nos multiplicava, “nos conduzia e nos protegia com suas mãos fortes”.
Essa
música passou a ser nosso hino-família.
Nossa primeira estrela a brilhar naquela noite junina, gélida e chorosa.
Nossa primeira estrela a brilhar naquela noite junina, gélida e chorosa.
Superamos
o temor, o vai-e-vem das dores miúdas. As internações, os medicamentos de hora em hora, o centro cirúrgico.
Superamos a perda de peso, o estancar das águas tóxicas, a descoberta da terceira lesão, a quimioterapia e a nova porção alimentar que sustenta a vitalidade das promessas.
Superamos a perda de peso, o estancar das águas tóxicas, a descoberta da terceira lesão, a quimioterapia e a nova porção alimentar que sustenta a vitalidade das promessas.
Estamos
em campanha há cinqüenta dias e, os amigos não se apartam da gente.
Um bando de
LINDOS.
Nenhum menos rouco em vigília e preces, abraços, entrega e risos, chamando o MILAGRE para compor este acordo.
“Estrelas
brincarão de roda/ cometas tocarão baião/ corujas olharão fogueiras, esquilos e
bolhas de sabão”...
Saúde com abundância e sorte.
http://www.youtube.com/watch?v=1jvGpd15D3Q