domingo, 24 de novembro de 2013





Senhor se for da tua vontade devolve nossas pocinhas de água clara para chapinharmos  com pés descalços sem temor de febre. Devolve nosso cheiro de azul nas auroras de vossos frutos, devolve nossas noites sem luz elétrica, nossas brincadeiras de rodas e de roubar bandeiras, nossa bacia cheia de espuma e saúde. Devolve Senhor se for da tua vontade; nosso cálice com cidra e os gominhos de mel na colherinha de prata. Devolve também nossa taipa e pandorga, nosso consolo de açúcar fininho e caramelizado.
Devolve Senhor o ardor da sarça e o cordeiro no lugar de Isac. Devolve alguns cômodos de minha alma que se foi na enxurrada do tempo. Devolve por favor, o terreirinho cercado de malva e o alecrim da infância na latinha de doce-de-goiaba. Devolve-me se possível os detalhes das estrelas francas e a lembrança de minha avó atiçando as brasas. Devolve-me Senhor, se for da tua vontade...

sexta-feira, 22 de novembro de 2013



Ela esquece o celular no carro e me chama de gatíssima.
Vive fotografando pedaços do céu, libélula e pó de café usado .
Com frequência desarruma o quarto, mas tem conduta impecável.
Gosta de assuntos sonoros, de coisas simples e de natureza.

“Seu amor reluz em mim como riqueza, asa do meu destino, clareza do tino e pétala...”

segunda-feira, 18 de novembro de 2013


Anos a fio essa peleja. Esse cativeiro, esse flautim tristonho, essa lâmina encostada no meu peito. O Poeta transferiu pros versos seu lamento secreto. A Brisa expressou o pesar dela em conversas distintas e tentativas de alforria. Sem êxito. Os bicos entristecidos continuam experimentando a ração presa ao destino. Eu que sou mais maligna de todos joguei mel e veneno, desprezei o trato, falei das amarras e maldições, tentei mil diálogos, desandei chorona, maldisse a natureza humana de gênesis a apocalipse. Não houve proveito. Prometi denúncia, perdi a doçura e suspendi visitas. Nada adiantou. Continuam as trocas, os piados tristes, os passarinheiros e suas bicicletas mal pintadas são os visitantes mais esperados. Nos dias de sol quando as paredes se tornam um braseiro é muito pior. As gaiolas ganham burcas e camuflagem de TNT azul- ardósia. Sofro como se o meu pai nunca tivesse me amado, como se a chuva não fosse cheirosa. Sofro querendo um longe para fugir desses gestos que me desconsolam. Lembro-me do meu pai defensor de pássaros, chapéu de palha, alpercata de sola plagiando cantigas em carrocinha de doce:
“O que os olhos não veem coração não chora. Coração não chora. Coração não chora".
Um abraço apertado com palhinhas de capim-dourado em TODOS.

sábado, 16 de novembro de 2013




Desenho no papel de pão uma flor de quatro pétalas enquanto ele corta tomatinho e cebola para a sopa escutando rádio. Os cachorros do vizinho da frente continuam latindo com irritante ênfase.
A calçada, garagem e quintal estão cobertos de folhas, tão amarelas até parece que caíram do sol. Quatro dias na estalagem hospitalar avolumaram-se os afazeres domésticos. Estávamos desejosos de casa, amargando a saudade prévia de cada canto. O proveito de tudo são os saberes que ganhamos ao longo desses apartes. Sabemos que os amigos estão na provisão do bem restabelecendo o fio de tudo que é saudável. Os sobrinhos são nossas tirinhas de ouro no visitar das tardes. Os irmãos continuam sendo “meus- minino- pequenos” e a mãe um sorriso na porta esperando notícias. Sabemos também que a poesia não ganha pulsar doloroso mesmo com o reaparecimento das águas tóxicas e a permanência dos tumores.
Nesse tempo a horta engravidou a roseira. Está pesada de botões roxos. A passarinhada continua cantoriando no pé de limão cravo.
Voltar para casa é diferir do resto. É sentir que o cheiro da chuva supera em muito o cuidado dos enfermeiros. É livrar-se de aguardar a febre, é deixar de temer o obvio e se recompor no meio dos alegres. É contemplar a luz invisível da lua cheia que, mesmo sem aparecer no céu a gente sabe que está lá.
É dar graças a Deus e pensar em Jesus.
“Por séculos e séculos o coisaruim nos cega com embustes. E o corpo dele na cruz suspenso. E o corpo dele sem panos”...
Oh Salvador meu, continue olhando por nós viu? Eu te adoro!
Obrigada a TODOS amigos e familiares pela primícia sincera do afeto que vem de cada UM e nos protege.
O que mais quero é saúde para envelhecer ao lado dele, meu amoroso dono.



As panelas de casa permanecem brilhosas e bem guardadas.
A estradinha da caminhada deve sentir falta dos seus passos miúdos e apressados.
O vizinho disse-me que deu falta dele pelo silêncio do portão e do rádio desligado. 
O manjericão não me disse nada, mas também não recebeu mais as cascas de mamão, inhame e sementes de goiaba.
Voltou para Hospital a criatura!
Uma insuficiência hepática moderada levou-o novamente aos apartamentos do Vivalle, as agulhadinhas para acesso antibiótico, soro e outros puxões no braço fino.
Estamos juntos feitos perfuminho do mesmo grude. Não o deixo por nada. Só um bocadinho pela manhã para dar meu plantão, mas ao iniciar à tarde já encosto com bagagem e tudo. Brisa idem. Somos duas vigilantes, amor e cuidadoras. Certas que em breve haverá maná e queijadinha nobre, néctar de romã e cocada de coco feito milagres-de-festa para Todos nós.
Estamos limitados à internet. Desculpem-nos pela falta de resposta para as mensagens inbox, os recados e amorosidades. Em breve tudo se normalizará com a graça de Deus. Um abraço em TODOS e gratidão maior. 13/11/2013.

sábado, 9 de novembro de 2013

Espero-te para um dedo de prosa, para um abraço certeiro, prum gracejo, pra repartirmos uma bala de coração.
Espero-te para lermos os poemas da Adélia, do Manuel, da Dyrce, Paulo Barja, Josie, Mirian’s, Patativa, e  Juracy.
Espero-te descalça  na cadeira mais limpa, com olhar de véspera alma enfeitada de miçangas e cocada carmesim.
Se vieres para às 14h
Desde as 11h serei mais feliz!
Espaço Cassiano Ricardo – Bienal do Livro
Poesia Por TODOS as 14h.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013



E Deus atendeu meu pedido. Estendeu sua mão, guardou-me dos males e livrou-me das dores...
( 1.Crônicas 4.10)
A poesia prevalece em mim como os lagartos nas pedras...
A cerimônia de abertura aconteceu às 19h do dia 1º de novembro, no Pavilhão Gaivotas, para autoridades e convidados. Na ocasião, foi entregue o prêmio “Cassiano Ricardo” da Fundação Cultural à família de Helena Weiss, como reconhecimento à contribuição da folclorista para o incentivo à cultura joseense.

Nos fins de semana (dias 2 e 3 e dias 9 e 10), o evento ficará aberto das 10h às 22h. Já durante a semana, o funcionamento será das 9h às 22h. A promoção está a cargo da Prefeitura de São José, por meio da Secretaria Municipal de Educação, da Fundação Cultural Cassiano Ricardo e da AJFAC (Associação Joseense para o Fomento da Arte e da Cultura).

De 24/10 a 10/11/2013 A cidade se enfeita de ARTE e CULTURA para todas as idades.


Quando você me amava
eu andava incompleta de vazios
em tudo havia um sentimento molhoso que imitava o cintilar dos lírios brandos
aprendi nesse tempo de azul mais do que tudo
aprendi também de milagres, de pássaros,
de cânticos, miçangas e de flor.
aprendi palpitações que granjeiam os olhos
aprendi de calêndula e de nunca bordar lágrima em angústia
- porque não existia uma página, um filete, uma nesga sequer de angústia -
tudo era germino, orvalho, lampadário advindos das sonatas
que os Querubins faziam nos campos de Salomão.